A
nutrição pode ter efeitos importantes sobre o comportamento do cão. Se o
proprietário está a alimentar o cão com comida de baixa qualidade, é provável
que este sofra de nutrição inadequada, que pode provocar stress.
Os
subprodutos ou derivados de animais e os derivados de cereais já são bastantes
prejudiciais, mas alguns conservantes químicos, corantes e substâncias químicas
para manter a humidade da comida podem tornar-se problemas adicionais.
Muitos
cães reagem de forma negativa a estes ingredientes e isso pode-se manifestar em
problemas de comportamento. Em muitos casos as comidas de baixa qualidade
incluem grandes quantidades de milho, que diminui o nível de serotonina no
cérebro por ser um produto pobre em triptofano e rico em tiroxina (antagonista
da serotonina) Lindsey 2000.
O triptofano e a
tiroxina
As
dietas de má qualidade incluem ingredientes conhecidos por causar
sensibilidade, intolerância ou alergias num grande número de cães.
“O
consumo alimentar dos aminoácidos triptofano e tiroxina, e de outros
aminoácidos neutros maiores, influencia de forma significativa a biossíntese e
a concentração de um grupo de neurotransmissores – serotonina, noradrenalina e
dopamina – que se conhecem em conjunto com a denominação de monoácidos (Strong
1999)”
A
noradrenalina é responsável pelos altos níveis de excitação, que levam à
agressividade. A dopamina pela atenção e reactividade. A serotonina é pelo
controlo do humor, pelos níveis de excitabilidade e pela sensibilidade à dor.
Julga-se que a insuficiência de serotonina no cérebro é um dos elementos chave
responsáveis pela impulsividade, pela agressividade, pelo comportamento
antissocial, pela desordem hiperactiva, pela ansiedade e pelas dificuldades de
aprendizagem (Strong 1999). Os cães com baixos níveis de serotonina no cérebro
são hipersensíveis à dor, hiperreactivos, emocionais e agressivos.
Os
aminoácidos individuais, que são os percursores dos monoácidos, competem pela
reabsorção destes produtos do sangue que vai para o cérebro. Se não há harmonia
ou se produz uma insuficiência, cria-se então um desequilíbrio nos processos
químicos do cérebro. O triptofano de origem alimentar transforma-se em
serotonina no cérebro. Assim como outros neurotransmissores, os percussores
devem viajar para o cérebro através da barreira sangue-cérebro (Lindsay 2000).
Na barreira sangue-cérebro, estes percursores competem por entrar no cérebro
devido à limitação de vias para esse transporte. O triptofano de origem
alimentar é o percursor da serotonina, enquanto que a tiroxina é o percursor da
noradrenalina e da dopamina. A tiroxina de origem alimentar actua como uma
espécie de agente anti-triptofano e, como tal, um agente anti-serotonina.
Como
consequência disso, é muito importante assegurar-se de que se evita um excesso
de tiroxina e se promove a administração de uma quantidade substancial de
triptofano. Em geral, as fontes de proteína têm mais triptofano em relação à
tiroxina que as fontes de hidratos de carbono mas, em muitos casos, uma mudança
de uma dieta baixa em proteínas melhora de forma significativa problemas de
conduta porque as dietas ricas em proteínas tendem a reduzir os níveis de
triptofano no cérebro (Lindsey 2000). De facto, as dietas ricas em
carbohidratos podem aumentar a quantidade de triptofano existente para a
síntese de serotonina, inclusivamente quando o alimento tem ela própria
quantidades modestas de triptofano.
Então,
porque é que uma dieta rica em hidratos de carbono aumenta os níveis de
serotonina no cérebro se há menos triptofano na sua composição? A forma natural
do triptofano representa uma pequena proporção dos aminoácidos que constituem a
proteína (entre 1% e 1,6%). Os demais aminoácidos presentes em maior quantidade
e mais prevalentes competem com o triptofano por um número limitado de canais
de transporte que atravessam a barreira sangue-cérebro.
O problema é que com
frequência nesta competição o triptofano é eliminado e o cérebro pode esgotar
as suas reservas deste aminoácido (necessárias para uma produção estável de
serotonina). As dietas que contêm uma quantidade proporcionalmente mais alta de
hidratos de carbono do que de proteínas (cerca de 5-6 partes de hidratos de
carbono para uma de proteína) estimulam a secreção de insulina. A produção de insulina
desvia os aminoácidos presentes em maior quantidade para o tecido muscular.
Devido à sua estrutura molecular única, que o diferencia de outros aminoácidos,
o triptofano não é tão afectado pela secreção de insulina como os outros
aminoácidos.
O resultado é que a
proporção de triptofano no plasma aumenta consideravelmente, obtendo vantagem
sobre os outros aminoácidos que competem para atravessar a barreira
sangue-cérebro, e a produção de serotonina no cérebro aumenta
significativamente (Lindsay 2000).
Recentemente, um
estudo de DeNapoli, Dodman, Shuster, Rand e Gross publicado no jornal “Of the
American Veterinary Medical Association (JAVMA)”, intitulado Os efeitos da proteína e suplementos de
triptofano na dieta sobre a agressividade por dominância (actual agressividade
por complexo de controlo), agressividade territorial e a hiperactividade, demonstrou
que uma redução de proteína tende a reduzir a agressividade de forma
significativa, mas o mesmo não acontece com a hiperatividade. A redução de proteína
acompanhada com suplementos de triptofano reduz a agressividade de forma mais
relevante.
Val Strong sugere que
a porção de alimento rica em hidratos de carbono deveria ser servida depois da
porção rica em proteína para assim obter melhores resultados.
“Apesar disso, a taxa de triptofano só
pode ser incrementada de forma significativa no cérebro pelos hidratos de
carbono, se estes são ingeridos duas a três horas depois da ingestão de
proteína. A insulina é segregada como resposta à ingestão de hidratos de
carbono para regular os níveis de glucose no plasma. A insulina também desvia
os aminoácidos neutros presentes em maiores quantidades nos tecidos
esqueléticos periféricos onde se envolvem as vias energéticas do sistema
imunitário” (Rugaas 1997)
A vitamina B6
Também, a vitamina B6
é um co-factor na síntese do triptofano na serotonina, de modo que deveria
ter-se em consideração numa intervenção nutricional. Para manter a proteína
adequada, uma óptima fonte deste aminoácido é o tofu. Tem um nível
relativamente alto de triptofano e baixo de tiroxina.
Sílvio Pereira
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