A
utilização de feromonas, mais propriamente a chamada feromona apaziguadora
canina produzida próximo das glândulas mamárias das cadelas que se encontram em
lactação, como coadjuvante à terapia comportamental canina, tecnicamente
conhecida como feromonoterapia, já há alguns anos que está a ser aplicada no
tratamento de várias doenças de comportamento que alguns cães apresentam.
As
feromonas são substâncias químicas que, segregadas por um indivíduo, têm como
objectivo transmitir uma informação específica a outros indivíduos da mesma
espécie provocando nestes mudanças na sua fisiologia e comportamento.
Normalmente
ao falar de feromonas referimo-nos a elas como substâncias que possuem um odor
característico responsáveis pelas reacções que observamos no indivíduo que
capta o dito odor. Mas, as feromonas não são simplesmente odores, estas
identificam-se espontaneamente durante a respiração dos animais. Portanto, para
que as feromonas sejam perceptíveis é necessária a participação de um órgão
especial conhecido como órgão vomeronasal, situado dentro da cavidade nasal.
Posteriormente,
a informação recebida pelo órgão vomeronasal é transmitida ao sistema nervoso,
mais concretamente ao sistema límbico, que gere as emoções (medo, ansiedade,
prazer, etc.), desencadeando as mudanças específicas no animal.
A feromona apaziguadora canina (DAP® dog appeasing pheromone)
As
glândulas sebáceas presentes no sulco intermamário das cadelas produzem,
durante o período de lactação (desde o 3º/4º dia após o parto até 2 a 5 dias
depois do desmame) umas feromonas denominadas “apeasinas” (do inglês
appeasiness, que significa calma ou apaziguamento) que têm uma actividade
calmante e tranquilizante nos cachorros. Além disso, parece que os ajudam a
orientar-se quando começam a mover-se próximo da mãe e a identificar
rapidamente as partes menos perigosas do entorno que aquela seleccionou como “ninho”.
Estas feromonas transmitem uma mensagem de bem-estar, calma e segurança que,
segundo as últimas investigações, persistem até à idade adulta modulando o
estado emocional do animal em todas as etapas da sua vida.
O DAP®
é o análogo sintético da feromona natural. O produto apresenta-se em Portugal
com o nome Adaptil® e é
disponibilizado nas formas de coleira e difusor, similar aos ambientadores
usados nas nossas casas, libertando a feromona directamente no ambiente sendo
recebida automaticamente pelo animal.
Principais indicções terapêuticas do
DAP®
As
indicações terapêuticas para o uso desta feromona derivam dos efeitos calmantes
ou tranquilizadores que possuem e incluem distintos problemas de medo excessivo
em cães (especialmente fobias a foguetes e trovões), problemas de ansiedade
(principalmente ansiedade por separação), assim como o alívio dos sintomas
associados a situações de stress (mudanças de residência, permanência em hotéis
caninos, adopção de animais, visitas ao veterinário, viagens de carro e avião,
etc.).
A feromonoterapia é um coadjuvante à
terapia comportamental
A
utilização recente desta nova substância vem substituir, nalguns casos noutros
acrescentar mais opções de tratamento das várias patologias do comportamento
para as quais esta nova técnica é indicada.
Até
há cerca de 10 anos, o único tipo de tratamento utilizado para baixar os níveis
de medo, stress e ansiedade nos animais e com isso garantir um maior êxito na
terapia comportamental, era a utilização de medicação que actua sobre o sistema
nervoso central, tais como fluoxetina (prozac), clomipramina, etc., com as
consequências conhecidas de todos os medicamentos que actuam sobre o SNC: habituação,
dependência, etc. Actualmente, está a começar a ser introduzida a
feromonoterapia como substituição da medicação tradicional com resultados
bastante encorajadores e deve ser uma prática a seguir, cada vez com mais
convicção, por todos os profissionais que se debatem com no seu dia-a-dia com
estes problemas de comportamento.
É
importante lembrar que, por si só, a feromonoterapia não irá resolver problema algum
e deve ser encarada como um coadjuvante à terapia comportamental, quer dizer
que, este produto, como nenhum outro, deve ser utilizado indiscriminadamente
por quem não tem conhecimentos nesta área mas sim por técnicos, com
conhecimentos para tal e sempre acompanhado de consequente terapia
comportamental.
Futuro da feromonoterapia em cães
A experiência
terapêutica com o DAP® é ainda limitada; apesar disso na opinião de
alguns investigadores o efeito obtido nas distintas aplicações parece ser mais subtil
que o conseguido com as feromonas felinas. Pode ser que o fracasso no
tratamento de alguns casos se deva a uma necessidade de refinar as indicações
tornando-as mais precisas.
Algumas
experiências sugerem que certos problemas poderão, no futuro, serem susceptíveis
de melhorar com o uso da feromona apaziguadora. Entre eles podemos citar algumas
formas de territorialidade, problemas ligados às condutas obsessivas,
conhecidos como estereotipias ou comportamentos estereotipados, situações de
agressividade por medo e mesmo determinados problemas médicos nos quais o
stress tem um papel fundamental, por exemplo, a epilepsia.
A
tolerância do produto é muito boa, não sendo descritos efeitos secundários
significativos nem nos animais em tratamento nem em pessoas que com eles
convivam. Como tal, esta feromona é uma excelente alternativa, como já
afirmámos anteriormente, ao uso de fármacos em cães. Em situações mais
complicadas permite igualmente a utilização simultânea de medicação psicotrópica
quando se ache necessário.
Para
finalizar, queríamos reafirmar que devemos
ter sempre presente, que deve usar-se esta terapia em combinação e não em
substituição dos tratamentos de modificação de comportamento.
Por: Sílvio Pereira