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04/12/24

Esterilização e Castração - Efeitos sobre o comportamento do cão e cadela

 

Aparelho reprodutor e urinário da cadela

Nos cães, a eliminação das hormonas sexuais masculinas (testosterona, principalmente) reduz ou elimina a aparição de alguns comportamentos sexualmente dimórficos (aqueles que se apresentam com diferente frequência no macho e na fêmea) como a marcação com urina, assim como os rituais próprios do comportamento sexual.

Apesar disso, com demasiada frequência, utiliza-se a castração como um tratamento inespecífico para problemas de comportamento nos machos para os quais não existe uma indicação precisa. Isto, juntando a uma cirurgia que proporciona respostas muito variáveis nos animais, desperta numerosas dúvidas no que respeita à sua efectividade tanto entre os profissionais como entre os tutores.

Ainda que grande parte  dos estudos realizados para comprovar a eficácia da castração no tratamento dos problemas de comportamento foram efectuados há algum tempo e, provavelmente necessitem de ser revistos, em linhas gerais as indicações para a castração são as seguintes:

·      Problemas relacionados com a conduta sexual: os comportamentos de monta inapropriada ou o vagabundeio (afastamento para procura de fêmea em cio);

·      Problemas de marcação com urina: a redução ou eliminação deste comportamento observa-se principalmente na residência. Durante o passeio, muitos destes animais continuam a fazê-lo normalmente. Isto parece estar relacionado com a diferente intensidade dos estímulos olfactivos presentes em ambos os locais;

·      Problemas de agressividade: a  principal indicação neste tipo de problemas é a agressividade intra-sexual. Apesar disso, e ainda que os resultados são muito variáveis, em geral recomenda-se a castração nos casos de agressividade dirigida para com os membros da família. Raramente a castração, por si só, corrigirá o problema, mas pode ser uma ajuda no tratamento da modificação comportamental.

Para outros problemas de comportamento, como outros tipos de agressividade, casos de hiperactividade, medos ou fobias, etc., não está indicada a castração. 

No quadro seguinte apresentam-se as percentagens de melhoria ou eliminação das condutas problemáticas atrás mencionadas.

 

Comportamento

Percentagem

Vagabundeio

90

Monta

65

Agressividade intra-sexual

60

Marcação com urina

50

Agressividade para com a família

30

Agressividade territorial

0

Agressividade por medo

0

Fonte: Hart et al., 1997

Em qualquer caso, os efeitos da castração parecem ser independentes da idade e se já houve comportamentos agressivos enraizados anteriormente à data em que se realiza a castração e os seus efeitos podem ser imediatos. Nalguns casos observa-se uma fase inicial de melhoria rápida, e noutros mais lenta e progressiva que se dilata até, em muitos casos, aos seis meses.

Efeitos sobre o comportamento da cadela

Os efeitos das hormonas sexuais femininas (estrogénios) sobre os problemas de comportamento nas cadelas estão muito menos estudados que nos cães. 

É interessante, principalmente o efeito que tem sobre dois problemas de agressividade específicos: a agressividade para com os membros da família e a agressividade intra-sexual.

Na agressividade por conflito social (complexo de controlo) para com os elementos da família, observou-se que as fêmeas que apresentam sinais prematuros (antes da puberdade) de agressividade, a esterilização pode agravar o problema se a intervenção cirúrgica se realiza antes dos 12 meses de idade. Portanto, nestes casos e por estes motivos, a esterilização deve ser evitada.

No que respeita à agressividade intra-sexual, se normalmente o problema se agrava significativamente quando a fêmea está em cio ou com gravidez psicológica e melhora durante o resto do ciclo sexual, pode recomendar-se a esterilização como ajuda ao tratamento.

Castração química

Muitos tutores de cães machos problemáticos não estão muito receptivos à castração do animal, sejam pelos resultados incertos que proporcionam a cirurgia, sejam pela ideia que têm que a castração afecta consideravelmente a “integridade” do cão. 

Para estes casos, à falta de estudos mais conclusivos, existe actualmente uma opção que permite prever com exactidão a eficácia da castração sobre alguns problemas de comportamento característicos dos machos.

Esta opção consiste numa “castração química” que se apresenta sob a forma de um implante subcutâneo de uma substância análoga  da hormona libertadora de gonadotropina (GnRH), de libertação controlada, que bloqueia a libertação de testosterona durante um período de cerca de seis meses. Este fármaco, chamado deslorelina, apresenta, segundo os estudos farmacológicos preliminares realizados, uma eficácia muito similar à castração cirúrgica para controlar os comportamentos sexualmente dimórficos nos cães, como são os casos da monta, marcação com urina, vagabundeio, e agressividade intrasexual.

 

Sílvio Pereira


02/12/24

Proteína animal vs proteína vegetal na alimentação canina

 


Com este artigo pretendemos aprofundar as diferenças, benefícios e limitações das proteínas animal e vegetal na alimentação canina, além de discutir a viabilidade e o impacto de dietas alternativas, como as vegetarianas ou vegans, para cães.

1. Composição e Qualidade das Proteínas

A proteína é essencial para todo o organismo do cão, pois fornece aminoácidos, que são vitais para funções como: 

  • Construção e reparação de tecidos musculares e orgânicos;
  • Suporte ao sistema imunológico;
  • Produção de hormonas e enzimas;
  • Saúde da pele e do pelo. 

Estas funções exigem que os cães consumam uma quantidade e qualidade adequadas de proteínas. Vamos ver como as proteínas animal e vegetal diferem nesse sentido.

Proteína Animal: Composição e Vantagens

  • Perfil Completo de Aminoácidos Essenciais: Proteínas de fontes animais como carne de vaca, frango, peixe, ovos e fígado oferecem um perfil completo de aminoácidos essenciais. Os cães precisam de 10 aminoácidos essenciais que eles não conseguem sintetizar sozinhos (como lisina, metionina, taurina, entre outros) e que, em geral, são encontrados em boas quantidades nas proteínas animais;
  • Alta Digestibilidade e Absorção: A proteína animal é altamente bio-disponível, o que significa que o corpo do cão consegue digeri-la e absorvê-la com mais eficiência. Isso facilita a utilização dos nutrientes pelo organismo do cão, especialmente para cães com maior necessidade proteica, como cachorros em crescimento, cadelas em gestação e lactação, cães de trabalho e desporto e cães de raças grandes;
  • Fonte Natural de Nutrientes Específicos: Além da proteína, as fontes animais fornecem nutrientes importantes, como ácidos gordos omega-3 e omega-6 (importantes para a saúde da pele e do sistema cardiovascular), vitamina B12 (fundamental para o sistema nervoso) e minerais como zinco e ferro. 

Essas características tornam as proteínas animais uma excelente base para a dieta de um cão, já que aportam a requisitos nutricionais de forma completa.

Proteína Vegetal: Benefícios e Limitações

Embora as proteínas vegetais como soja, lentilhas, ervilhas e grão-de-bico possam complementar a dieta canina, elas apresentam desafios:

  • Aminoácidos Incompletos: As proteínas vegetais têm perfis de aminoácidos incompletos, o que significa que uma única fonte vegetal não é capaz de fornecer todos os aminoácidos essenciais que o cão necessita. Para construir uma dieta completa, seria necessário combinar diferentes fontes vegetais para obter todos os aminoácidos, o que pode complicar o equilíbrio alimentar; 
  • Menor Digestibilidade e Absorção: O sistema digestivo dos cães tem mais dificuldade em processar proteínas vegetais, resultando numa menor bio-disponibilidade. Isso significa que, para fornecer o mesmo valor proteico, pode ser necessário aumentar a quantidade de proteína vegetal em comparação com a proteína animal, o que pode afetar o balanço calórico e a quantidade de fibras ingeridas;
  • Benefícios e Compostos Adicionais: Em contrapartida, alimentos vegetais oferecem fibras e antioxidantes que beneficiam a saúde intestinal e o sistema imunológico. No entanto, algumas plantas contêm compostos anti-nutricionais, como fitatos e oxalatos, que podem interferir na absorção de minerais como ferro e cálcio. 

2. O Papel das Proteínas na Saúde Canina

A saúde dos cães depende muito da qualidade da proteína que eles consomem. O tipo de proteína e sua digestibilidade influenciam diretamente a energia, a manutenção muscular, a função imunológica e a saúde geral do cão. Um desequilíbrio ou deficiência de aminoácidos pode causar problemas, como fraqueza muscular, perda de peso, problemas de pele e uma resposta imunológica reduzida.

Vantagens das Dietas que Combinam Fontes Proteicas

Uma abordagem equilibrada que utiliza tanto proteínas animais como vegetais pode ser vantajosa em várias situações, como:

  • Diminuição de Custos e Sustentabilidade: As proteínas vegetais são uma alternativa mais económica e sustentável que pode ajudar a reduzir custos de produção de alimentos e o impacto ambiental; 
  • Melhor Controle de Alergias Alimentares: Alguns cães são alérgicos a certas proteínas animais, como carne bovina ou frango. Nessas situações, fontes vegetais ou proteínas animais alternativas, como peixe, podem ser úteis;
  • Apoio à Saúde Digestiva: As fibras das fontes vegetais ajudam na digestão e favorecem o crescimento de bactérias benéficas no intestino, promovendo uma flora intestinal saudável e prevenindo a obstipação. 

3. Dietas Vegetarianas ou Veganas para Cães: É Possível?

Com o aumento de opções vegans e vegetarianas para cães no mercado, muitos tutores questionam-se sobre a viabilidade de uma dieta exclusivamente à base de plantas. Embora alguns cães possam viver bem com dietas vegans ou vegetarianas bem formuladas, é fundamental lembrar que esses planos alimentares exigem suplementação rigorosa e orientação profissional para evitar deficiências.

Suplementação Essencial em Dietas Vegetais

Para tornar uma dieta vegan ou vegetariana adequada para cães, é preciso incluir:

  • Taurina e Carnitina: Aminoácidos críticos para a saúde cardíaca e muscular. Taurina, em especial, é essencial para o coração e não é facilmente encontrada em plantas; 
  • Vitamina B12: Fundamental para o sistema nervoso e não presente em fontes vegetais. Deve ser suplementada para evitar deficiências graves;
  • Zinco e Ferro: Minerais encontrados em abundância nas fontes animais, mas menos bio-disponíveis nas plantas. Suplementos podem ser necessários para manter os níveis adequados.

Apesar de ser possível, uma dieta vegetariana ou vegan exige monitoração constante e ajuste profissional para garantir que o cão recebe todos os nutrientes. A alimentação baseada em proteínas animais continua a ser mais natural e completa para a saúde dos cães, considerando o seu sistema digestivo adaptado para processar a carne.

4. Conclusão e Recomendações Práticas

Para a maioria dos cães, uma dieta baseada principalmente em proteínas animais é a melhor opção para suprir todas as necessidades nutricionais, garantindo alta digestibilidade e um perfil completo de aminoácidos. Contudo, proteínas vegetais podem ser um bom complemento em dietas mistas, ajudando a equilibrar o custo, a acessibilidade e a digestão.

Caso o tutor considere uma dieta exclusivamente à base de plantas, é imprescindível:

  • Procurar Orientação Veterinária: Um veterinário ou nutricionista animal pode recomendar a suplementação necessária e realizar exames periódicos para monitorizar a saúde do cão; 
  • Investir em Alimentos Comerciais de Qualidade: Muitos alimentos comerciais vegans para cães são formulados especificamente para atender às necessidades nutricionais, com suplementação de aminoácidos e vitaminas essenciais;
  • Monitorizar a Saúde do Cão: Qualquer mudança de dieta deve ser acompanhada de observação atenta ao comportamento, ao peso, à saúde da pele e do pelo, e à energia do cão, além de exames regulares. 

Conclusão Final

A proteína animal ainda é a mais recomendada para a dieta dos cães pela sua alta qualidade e compatibilidade biológica. As proteínas vegetais podem fazer parte da alimentação, mas devem ser usadas como complemento e com cuidado em dietas exclusivamente vegetais.

 

Sílvio Pereira

28/11/24

Porque é que os Cães colocam a cauda entre as patas

 




A linguagem corporal é uma das formas mais eficazes que os cães utilizam para expressar as suas emoções e intenções. Entre os muitos sinais que os cães exibem, um dos mais conhecidos é o acto de colocar a cauda entre as patas traseiras, especialmente em situações de medo ou desconforto. Este comportamento não é apenas uma reação instintiva; ele carrega igualmente significados profundos relacionados à biologia, à psicologia e à evolução da espécie. Neste artigo, exploraremos as várias razões que explicam esse gesto, o seu contexto histórico e como podemos interpretar e responder-lhe adequadamente.

1.    A Origem Instintiva: Proteção Física

Um dos motivos primários para que os cães coloquem a cauda entre as patas é a proteção física das áreas vulneráveis do seu corpo. A cauda, quando está baixa, serve como um escudo para as partes sensíveis, como os órgãos genitais e o abdómen, áreas críticas que, se feridas, poderiam comprometer a sobrevivência do animal. Este comportamento defensivo remonta aos ancestrais selvagens dos cães, os lobos, que em situações de desconfronto ou submissão instintivamente protegiam as partes mais suscetíveis dos seus corpos.

Em ambientes naturais, expor áreas vulneráveis poderia atrair ataques de predadores ou adversários. Portanto, ao adotar essa postura, o cão reduz os riscos de ferimentos fatais. Esse instinto persiste até hoje nos cães domésticos, mesmo que não enfrentem as mesmas ameaças dos seus ancestrais.

2.    Comunicação Olfativa: Um Gesto de Ocultação

Os cães têm glândulas anais localizadas na base da cauda que liberam feromonas, sinais químicos únicos que carregam informações sobre identidade, estado emocional e status social. Quando um cão coloca a cauda entre as patas, restringe a libertação desses odores. Isso é especialmente relevante em situações de medo ou submissão, pois o cão está, simbolicamente, "a esconder a sua identidade".

Este comportamento também pode ser interpretado como uma tentativa de evitar conflitos. Em situações de tensão social, como interações com cães dominantes ou desconhecidos, ocultar os sinais olfativos pode ser uma estratégia para evitar atrair atenção indesejada ou demonstrar apaziguamento.

3.    A Cauda Como Indicador de Emoções

A posição e o movimento da cauda de um cão são reflexos claros das suas emoções. Uma cauda erguida geralmente indica confiança, entusiasmo ou até mesmo dominância. Por outro lado, uma cauda baixa ou entre as patas é um sinal inequívoco de medo, submissão ou desconforto. Esse gesto frequentemente é acompanhado por outros sinais corporais, como orelhas baixas e coladas ao crâneo, postura encolhida, tremores ou desvio do olhar.

Esse comportamento é uma parte fundamental da linguagem canina, permitindo que os cães comuniquem as suas intenções para outros cães, animais ou humanos. Em contextos sociais, colocar a cauda entre as patas é uma forma de dizer: "Não sou uma ameaça, quero evitar conflitos."

4.    Herança Evolutiva: A Postura Submissa

A origem deste gesto está profundamente enraizada na história evolutiva dos cães. Nos grupos sociais dos lobos, posturas submissas eram cruciais para a harmonia do grupo. Lobos subordinados utilizavam gestos, como baixar a cauda, para reconhecer a autoridade de indivíduos dominantes e evitar confrontos. Este comportamento foi herdado pelos cães domésticos, que mantiveram muitas dessas estratégias de comunicação social para interagir tanto com outros cães como com humanos.

No mundo moderno, os cães utilizam essa mesma postura numa variedade de situações, desde encontros com outros cães mais dominantes até interações com estranhos ou ambientes desconhecidos que provocam ansiedade.

5.    Impacto Psicológico: O Medo e o Stresse

Colocar a cauda entre as patas é também uma resposta emocional. Situações stressantes, como trovões, fogos de artifício, ambientes desconhecidos ou mesmo uma repreensão, podem desencadear essa reacção. O comportamento reflete o estado emocional do cão, indicando que ele se sente inseguro ou sobrecarregado.

Em contextos extremos, como abuso ou trauma, os cães podem adotar esta postura de forma crónica, demonstrando um estado constante de medo ou submissão. Isso ressalta a importância de entender e abordar as causas do stresse de forma empática e proativa.

6.    Como Interpretar e Responder a Este Comportamento?

Quando um cão coloca a cauda entre as patas, está a tentar comunicar algo importante. Ignorar ou forçar o animal a permanecer numa situação que o assusta pode agravar o problema. Aqui estão algumas maneiras de responder a esse comportamento:

a)    Identifique a Fonte do Medo

Observar o ambiente e identificar o que está no momento a causar desconforto é o primeiro passo. Pode ser algo óbvio, como um barulho alto, ou algo menos evidente, como um cheiro estranho ou a presença de outro animal.

b)   Ofereça Segurança

Use uma voz tranquila e um tom reconfortante para transmitir calma. Criar um espaço seguro, como uma área reservada na casa, pode ajudar o cão a relaxar.

c)    Evite Forçar o Enfrentamento

Não obrigue o cão a enfrentar a situação que o está a assustar. Isso pode reforçar associações negativas e aumentar o medo.

d)   Reforce o Comportamento Correcto

Quando o cão começar a sentir-se mais confortável, recompense-o com biscoitos, carinhos ou palavras de encorajamento. Isso ajuda a criar associações positivas e a construir confiança.

e)    Procure Ajuda Profissional

Se o comportamento for recorrente ou severo, consultar um comportamentalista é essencial. Ansiedade crónica pode exigir intervenções mais específicas.

7.    Conclusão

O ato de colocar a cauda entre as patas é uma resposta instintiva, emocional e social profundamente enraizada nos cães. Este comportamento combina proteção física, comunicação olfativa e expressão emocional, que reflecte a complexidade das interações caninas. Para os tutores, entender e respeitar essa linguagem é essencial para criar um ambiente de confiança e segurança para o animal.

A linguagem corporal dos cães é uma janela para as suas emoções e necessidades. Aprender a interpretar esses sinais não apenas fortalece a ligação entre humanos e cães, mas também garante o bem-estar físico e psíquico dos nossos companheiros de quatro patas.

 

Sílvio Pereira


25/01/19

Que cão de companhia quero ter?

Algumas vezes, os nossos serviços de aconselhamento são confrontados com pedidos de informação sobre a dificuldade que os novos donos têm em escolher o melhor cão em função daquilo que pretendem dele e tentar inseri-lo no seu estilo de vida, isso é o correcto. Mas com bastante mais frequência chegam ao nosso Departamento de Consultadoria em comportamento canino ajuda para resolução de distúrbios de conduta de animais que não foram seleccionados para viverem nos ambientes onde são inseridos. Muitos desses animais acabam, infelizmente, nos canis de adopção com um reduzido prognóstico de poderem um dia a virem a ser de novo integrados e recuperados. O que pretendemos dizer com isto é que, quase sempre a compra de um animal baseia-se mais em razões puramente estéticas e de preferência pessoal por uma raça ou um tipo de cão e menos no carácter e nas funcionalidades do animal e de saber se o escolhido está programado para se integrar no tipo de vida que lhe podemos proporcionar. O exemplo mais recente e mais gritante de como um certo tipo de cão não se adapta ao modo de vida que escolheram para ele é o caso dos Huskies Siberianos que, no início deste século, foram criados em massa, devido às particularidades fenotípicas serem muito parecidas com as do lobo, terem olhos azuis e parecerem muito dóceis, qualidades que as pessoas adoravam. Ao serem inseridos em pequenos apartamentos criaram neles grandes necessidades de liberdade e de espaços abertos onde viveram os seus avós e bisavós, tendo como consequência uma total inadaptação à vida das cidades, sendo nessa altura os cães que mais fugiam das casas onde eram obrigados a viver.

A manipulação genética poderia tornar possível gerar cães que se parecessem mais com Huskies ou até com raposas do agrado de tanta gente mas com características mais dóceis, mais sociáveis e que se adaptassem bem a espaços confinados. No entanto, embora essa abordagem fosse, decerto, gerar novidades, mas também controvérsias, não é disso que se necessita para salvar o cão. Já existe alteração genética mais do que suficiente entre os cães de hoje para gerar uma ampla variedade de indivíduos bem adaptados para a vida de animais estimação; o que se precisa fazer então é reconhecer esse papel como a função principal do cão e tomar a iniciativa das mãos daqueles que se empenham todos os dias em melhorar a qualidade dos animais que criam, não só em termos de funcionalidade, de carácter mas também em termos de saúde.

A outra aplicação da engenharia genética, a clonagem, tampouco é a solução para produzir um cão de companhia perfeito. O multimilionário texano John Sperling clonou a sua cadela Missy, cruzada de Border Collie com Husky, e os clones com certeza parecem-se com ela. Mas de que é que o dono gostava? Da aparência da Missy ou da sua personalidade? Porque a personalidade de um cão é em grande parte produto da sua experiência de vida que não pode ser replicada graças à genética in vitro.

Quais são, então, as barreiras que impedem o desenvolvimento de um melhor cão de companhia? Deixando de lado, por um momento, as características desse tipo de cão, parece haver pelo menos duas barreiras: a primeira é que os criadores de cães raramente tomam as melhores decisões sobre que cães criar com base em quais deles se revelaram melhores companheiros. Simplesmente podem não ter informações sobre como os animais que entregaram vieram a desempenhar as suas funções como tal. Ou podem estar primariamente concentrados nas possibilidades de que os cães de sua criação sejam ou não competitivos nos ringues de exposição – mesmo que a maior parte dos cães não seja adquirida para participar em competições. Além do mais, é difícil fazer com que os criadores sejam responsáveis pela qualidade dos cachorros que produzem. Eventuais fracassos podem ser prontamente atribuídos a erros cometidos por pessoas inexperientes que adquirem os cachorros – que os alimentaram com a dieta errada, que não lhes deram exercício suficiente, ou lhes deram em excesso e assim por diante.

A segunda barreira podemos defini-la com um ditado “preso por ter cão e preso por não ter”, quer isto dizer, que quanto mais responsável for o dono de um cão, maior a possibilidade de que esse cão seja castrado. Em resumo, muitos dos cães mais cuidadosamente seleccionados e nutridos, aqueles que se adaptam perfeitamente ao âmbito da companhia, quase nunca conseguem passar os seus genes para a geração seguinte. Por outro lado, o que nasce são cachorros que nascem mais ou menos por acidente, por causa de donos irresponsáveis, muitos dos quais são atraídos por cães com status, como os Pit Bulls, os Pastores Alemães ou os Rottweilers (daí a quantidade de exemplares dessas raças e de seus cruzamentos que acabam em canis de adopção ou de abate onde irão terminar os seus dias) Como todos os donos de cachorros são encorajados, de modo correcto, a castrar e esterilizar os seus animais para reduzir a superpopulação de cães, fazer isso, infelizmente, trabalha contra o propósito de criar uma população mais voltada para a companhia.

Também é problemático o facto de que a criação de cães com base na personalidade não seja tão simples como criar cães com vistas à sua aparência. Parte da explicação está em que os genes não codificam os comportamentos como tais – mas outra parte está em que o próprio papel do cão, de companhia não está claramente definido. Presume-se que cada tutor ou futuro tutor tenha um cão ideal em mente, de modo que existe um número infindável de cães “ideais”. No entanto, certos traços são universalmente desejados. A maioria das pessoas acredita que os cães de companhia devem ser dóceis, obedientes, robustamente saudáveis, fáceis de controlar, seguros com crianças, facilmente treináveis em casa e capazes de mostrar afeição pelos donos. Muitos donos também valorizam o contacto físico com o seu cão – uma descoberta que não deve surpreender, pois agora sabemos que acariciar um cão não só reduz o stress como também conduz à libertação da hormona do “amor” a oxitocina.

Outras características são avaliadas diferentemente por donos distintos. Algumas pessoas preferem um cão que seja dócil com toda a gente; outras, especialmente os homens, valorizam um alto sentido de territorialidade no cão, que eles veem como uma ajuda para a protecção da sua casa. Os homens também tendem a expressar uma preferência por cães enérgicos e leais, enquanto muitas mulheres dão mais valor à calma e à sociabilidade.

Mas a maior parte dos donos não prioriza o carácter quando escolhe um cão. Por exemplo, muitos valorizam mais a aparência que a personalidade e consideram o treino como relativamente sem importância, mesmo que esperem que os cães sejam obedientes. Além disso, se é verdade que um cão se adapta melhor ao estilo de vida de uma dada pessoa, isso pode mudar à medida das circunstâncias da vida dessa pessoa. Embora o tempo de vida dos cães seja menor que o nosso, ele ainda é bem longo se comparado com o moderno ritmo de mudança nos actuais estilos de vida.

Dito isto, a selecção com base no temperamento torna-se ainda mais desafiadora quando consideramos quantas variações existem, mesmo dentro de uma raça específica. Muitos dos traços “de companhia” mencionados acima são influenciados pela genética apenas de forma marginal. Anormalidades físicas e predisposições a doenças com base na genética podem, e devem, ser objecto dos cuidados de uma criação mais esclarecida; muitos outros traços, porém, tais como afabilidade, obediência, falta de agressividade e uma predisposição para a afeição são fortemente influenciáveis pelo ambiente e pela aprendizagem precoces. É difícil ver como esses traços podem ser activamente seleccionados sem que paralelamente melhore a compreensão dos donos sobre como inculcá-los nos seus novos cães ou cachorros.

Traços de companhia podem ser difíceis de selecionar, mas com certeza outros traços comportamentais específicos das raças precisam ser reduzidos nos cães de companhia. A maior parte da selecção genética imposta aos cães durante a sua longa associação com o homem tem sido dirigida para traços úteis, como a habilidade nos pastoreio, na caça e na guarda. Mas agora que os cães no Ocidente, na sua grande maioria não se destinam a cumprir essas tarefas, precisamos reduzir esses vínculos, pois de outra forma a frustração prevalecerá. Aconteceu inúmeras vezes terem-nos pedido conselho se um lindo cachorro Border Collie daria um bom animal de companhia. Sempre dissemos que não, que esses cães são criados para trabalhar no campo e decerto achariam intolerável a vida na cidade. No entanto, quase todas essas pessoas que aconselhámos dessa forma foram em frente e compraram Border Collies de qualquer maneira e muitos arrependeram-se disso – mas não tanto como decerto fariam os próprios cães se o arrependimento existisse no seu arsenal emocional. Se tais cães devem adaptar-se ao âmbito da companhia, precisamos reconfigurar a raça para que eles não se sintam frustrados.

Finalmente, embora a extensão em que podemos criar cães de companhia seja ilimitada, também devemos ser cuidadosos para não ir longe demais na direcção oposta – aumentando a capacidade de afeição dos nossos cães até ao ponto de se tornar uma carga para eles. Já existe uma epidemia de desordens de separação, as chamadas ansiedades por separação, entre cães de companhia; aqueles que sejam avassaladoramente motivados para estar com os seus donos, o hiperapego, iriam, presume-se, sofrer de forma desproporcionada se deixados sozinhos. A maior parte dos donos não quer que o seu cão seja demasiado “pegajoso”. (ou, por falar nisso, demasiado saltitante: pede-se que os cães de companhia fiquem inativos, em média, durante três quartos das suas vidas.)

Há consideráveis desafios a serem enfrentados antes que os métodos de criação melhorem, não só porque muitos criadores ainda subestimam a necessidade de socialização dos cachorros, mas também porque existe um óbvio mecanismo pelo qual a melhor prática se tornará disseminada, graças simplesmente ao número de pessoas envolvido. A informação de que os criadores precisam para criar cachorros bem socializados agora está amplamente disponível – esperemos que a sua adopção universal seja apenas uma questão de tempo.

Mesmo que a informação seja cuidadosamente difundida, não é provável que a criação irresponsável desapareça. As instituições de adopção e de recolocação arcarão inevitavelmente com o peso de lidar com os cães não desejados que resultarem dessa criação. Mas, felizmente também, elas começam a ter à sua disposição cada vez mais a informação necessária para adoptar métodos de bases científicas para reabilitar esses cães, e para garantir a compreensão, entre os tutores adoptivos, do que faz os cães comportarem-se de uma certa forma e como o fazem, e para os auxiliarem estão a formar-se jovens terapeutas comportamentais caninos possuidores de vasta base técnica e cientifica, como são os casos dos formados nos Cursos de Formação do Centro Canino de Vale de Lobos. 


Sílvio Pereira


16/02/17

Feromonas na Terapia Comportamental. Será que funcionam?

A utilização de feromonas, mais propriamente a chamada feromona apaziguadora canina produzida próximo das glândulas mamárias das cadelas que se encontram em lactação, como coadjuvante à terapia comportamental canina, tecnicamente conhecida como feromonoterapia, já há alguns anos que está a ser aplicada no tratamento de várias doenças de comportamento que alguns cães apresentam.  

As feromonas são substâncias químicas que, segregadas por um indivíduo, têm como objectivo transmitir uma informação específica a outros indivíduos da mesma espécie provocando nestes mudanças na sua fisiologia e comportamento.

Normalmente ao falar de feromonas referimo-nos a elas como substâncias que possuem um odor característico responsáveis pelas reacções que observamos no indivíduo que capta o dito odor. Mas, as feromonas não são simplesmente odores, estas identificam-se espontaneamente durante a respiração dos animais. Portanto, para que as feromonas sejam perceptíveis é necessária a participação de um órgão especial conhecido como órgão vomeronasal, situado dentro da cavidade nasal.

Posteriormente, a informação recebida pelo órgão vomeronasal é transmitida ao sistema nervoso, mais concretamente ao sistema límbico, que gere as emoções (medo, ansiedade, prazer, etc.), desencadeando as mudanças específicas no animal.

A feromona apaziguadora canina (DAP® dog appeasing pheromone)  

As glândulas sebáceas presentes no sulco intermamário das cadelas produzem, durante o período de lactação (desde o 3º/4º dia após o parto até 2 a 5 dias depois do desmame) umas feromonas denominadas “apeasinas” (do inglês appeasiness, que significa calma ou apaziguamento) que têm uma actividade calmante e tranquilizante nos cachorros. Além disso, parece que os ajudam a orientar-se quando começam a mover-se próximo da mãe e a identificar rapidamente as partes menos perigosas do entorno que aquela seleccionou como “ninho”. Estas feromonas transmitem uma mensagem de bem-estar, calma e segurança que, segundo as últimas investigações, persistem até à idade adulta modulando o estado emocional do animal em todas as etapas da sua vida.

O DAP® é o análogo sintético da feromona natural. O produto apresenta-se em Portugal com o nome Adaptil® e é disponibilizado nas formas de coleira e difusor, similar aos ambientadores usados nas nossas casas, libertando a feromona directamente no ambiente sendo recebida automaticamente pelo animal.

Principais indicções terapêuticas do DAP®

As indicações terapêuticas para o uso desta feromona derivam dos efeitos calmantes ou tranquilizadores que possuem e incluem distintos problemas de medo excessivo em cães (especialmente fobias a foguetes e trovões), problemas de ansiedade (principalmente ansiedade por separação), assim como o alívio dos sintomas associados a situações de stress (mudanças de residência, permanência em hotéis caninos, adopção de animais, visitas ao veterinário, viagens de carro e avião, etc.).


A feromonoterapia é um coadjuvante à terapia comportamental

A utilização recente desta nova substância vem substituir, nalguns casos noutros acrescentar mais opções de tratamento das várias patologias do comportamento para as quais esta nova técnica é indicada.

Até há cerca de 10 anos, o único tipo de tratamento utilizado para baixar os níveis de medo, stress e ansiedade nos animais e com isso garantir um maior êxito na terapia comportamental, era a utilização de medicação que actua sobre o sistema nervoso central, tais como fluoxetina (prozac), clomipramina, etc., com as consequências conhecidas de todos os medicamentos que actuam sobre o SNC: habituação, dependência, etc. Actualmente, está a começar a ser introduzida a feromonoterapia como substituição da medicação tradicional com resultados bastante encorajadores e deve ser uma prática a seguir, cada vez com mais convicção, por todos os profissionais que se debatem com no seu dia-a-dia com estes problemas de comportamento.

É importante lembrar que, por si só, a feromonoterapia não irá resolver problema algum e deve ser encarada como um coadjuvante à terapia comportamental, quer dizer que, este produto, como nenhum outro, deve ser utilizado indiscriminadamente por quem não tem conhecimentos nesta área mas sim por técnicos, com conhecimentos para tal e sempre acompanhado de consequente terapia comportamental.

Futuro da feromonoterapia em cães

A experiência terapêutica com o DAP® é ainda limitada; apesar disso na opinião de alguns investigadores o efeito obtido nas distintas aplicações parece ser mais subtil que o conseguido com as feromonas felinas. Pode ser que o fracasso no tratamento de alguns casos se deva a uma necessidade de refinar as indicações tornando-as mais precisas.

Algumas experiências sugerem que certos problemas poderão, no futuro, serem susceptíveis de melhorar com o uso da feromona apaziguadora. Entre eles podemos citar algumas formas de territorialidade, problemas ligados às condutas obsessivas, conhecidos como estereotipias ou comportamentos estereotipados, situações de agressividade por medo e mesmo determinados problemas médicos nos quais o stress tem um papel fundamental, por exemplo, a epilepsia.

A tolerância do produto é muito boa, não sendo descritos efeitos secundários significativos nem nos animais em tratamento nem em pessoas que com eles convivam. Como tal, esta feromona é uma excelente alternativa, como já afirmámos anteriormente, ao uso de fármacos em cães. Em situações mais complicadas permite igualmente a utilização simultânea de medicação psicotrópica quando se ache necessário.


Para finalizar, queríamos reafirmar que devemos ter sempre presente, que deve usar-se esta terapia em combinação e não em substituição dos tratamentos de modificação de comportamento.

Por: Sílvio Pereira     

29/10/14

“PUPPY CLASSES”! Será Que se justificam?



Sem dúvida, claro que sim!!

Segundo preconiza o especialista em comportamento canino Ian Dunbar, um cachorro devia interagir com cerca de 100 pessoas e 100 cães até aos três meses de idade.

As aulas de socialização para cachorros, popularmente conhecidas por “puppy classes” foram criadas para proporcionar aos nossos cachorros a possibilidade de poderem interagir entre si, mas também com pessoas, todo o tipo de pessoas: homens, crianças, deficientes, outras etnias, etc., para que o cachorro durante o seu período crítico de socialização possa conviver com indivíduos da sua espécie e indivíduos de outras espécies, como é o caso da humana.

A importância dos dois períodos de socialização

Os canídeos têm dois períodos específicos e bem marcados de socialização: o período crítico ou “imprinting” (é a primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie, enquanto estabelece relações com os de outra), também conhecida como socialização intra-específica; e o período sensível ou de socialização, também conhecido por socialização inter-específica. (Para mais informação acerca destas duas fases tão importantes da vida de um cão, aconselhamos a leitura de um artigo sobre o assunto, através deste link: http://comportamento-canino.blogspot.pt/2009/01/etapas-vitais-do-co-domstico.html)

Estes dois períodos estão balizados em alturas específicas da vida dos cães: O crítico, das três às quatro semanas e o sensível das cinco até às doze/dezasseis semanas, dependendo da raça e principalmente do tamanho do animal. Se durante essas duas janelas de oportunidades o animal não for exposto aos estímulos, não só ambientais mas também de interacção com uma grande quantidade de elementos, não só da sua espécie mas também de outras espécies, que o acompanharão ao longo das suas vidas, então o seu comportamento futuro tenderá fatalmente para a anormalidade.

O contexto ambiental

O facto de a forma de vivermos estar actualmente organizada em torno de grandes aglomerados populacionais, com poucos espaços verdes sem tamanho e condições para que possamos soltar os nossos cachorros de forma a brincarem com os seus congéneres, e não só, e a própria lei não o permitir, e o facto da imunidade adquirida pelo programa de vacinação só ficar completa quando o animal está a terminar o período sensível da socialização inter-específica, são factores mais do que preponderantes para que os nossos cachorros não tenham a oportunidade de serem o que são, de aprenderem a linguagem, a comunicação e a conduta inerentes à sua espécie e de se integrarem numa sociedade em que, além deles, coexistem outras espécies. E assim, viremos a ter animais adultos desequilibrados, desestruturados, e a serem permanentemente foco de problemas que os levarão indubitavelmente ao abandono ou eutanásia.  
Como foi dito anteriormente, as aulas de cachorros vieram colmatar uma lacuna grave que existia ao nível das necessidades que os cachorros tinham em usufruírem de espaços com as características necessárias para poderem interagir mutuamente, sem a preocupação permanente da segurança do animal.

As aulas de socialização

Elas permitem que o animal se relacione com outros cães e possa brincar num local livre de ameaças, seguro e controlado. Os cachorros tímidos e assustadiços ganham confiança muito rapidamente e os cachorros seguros e conflituosos aprendem a controlarem-se e a serem apaziguadores.

As sessões de brincadeira e de jogos são cruciais; brincar é essencial para que aprendam as normas aceites na sociedade canina, e assim, depois, como cães adultos socializados, preferirão brincar em lugar de lutarem ou fugirem. Se não forem correctamente familiarizados enquanto cachorros, em adultos faltar-lhe-á a confiança necessária para se divertirem e brincarem como tais. E mais, os cães adultos medrosos e/ou agressivos são muito difíceis de reeducar. Felizmente, esses problemas, graves em idade adulta, são fáceis de prevenir enquanto cachorros, deixando simplesmente que brinquem uns com os outros. Não é justo condená-los a viverem toda a vida preocupados e ansiosos por lhes termos negado a oportunidade de brincar enquanto era cachorro.

Isso não quer dizer que um cão bem educado nunca se vá assustar, ou lutar, pode fazê-lo em alguma ocasião mas recuperará rapidamente. O mesmo não acontece com os cães que não foram socializados nestes períodos. Alem disso, os que foram socializados, aprenderam a lidar com cães de todos os tamanhos e formas e estão melhor preparados para interagir com outros pouco socializados e muito pouco amigáveis.

Os locais

Estas aulas de socialização de cachorros são normalmente disponibilizadas nos chamados campos de treino, ou campos de trabalho. Num recinto fechado, preferencialmente frequentado por bastantes pessoas (donos dos cães que estão a trabalhar, mas não tem que ser obrigatoriamente assim) e que, numa situação ideal, com um grande número de cachorros a “divertirem-se” e, acima de tudo, deverão ser supervisionadas por um técnico formado em comportamento canino, porque só ele está em condições de interpretar os sinais e por cobro a um possível desentendimento entre os cachorros.

Neste contexto, só assim conseguiremos cumprir com o postulado pelo Dr. Ian Dunbar de que os cachorros deveriam interagir com pelo menos 100 pessoas e 100 cães até aos três meses.

Iniciativa do APP

Estão a ser levadas a efeito, nas instalações do Centro Canino Vale de Lobos, por iniciativa do Adestramento Positivo Project (APP), um programa de aulas de socialização para cachorros, e não só, que está a obter um enorme êxito. Por este programa já passaram algumas dezenas de cachorros e pelo feedback dos donos estes tornaram-se cães adultos perfeitamente integrados, equilibrados e sem qualquer indício de conflituosidade.

Portanto, Puppy Classes? Sim! Claro que sim!

Sílvio Pereira