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11/03/09

A Agressividade Canina II

Parte 2

Diversos tipos de agressão canina

A agressão é actualmente o maior e mais complexo problema comportamental canino. É o que causa mais impacto, o que é mais explorado pelos média, e aquele que divide mais, não só o publico em geral, mas também quem se dedica a estudar, analisar e resolver esta conduta anómala.

Convém esclarecer o seguinte: quando falamos de agressividade canina falamos exactamente de quê? Existe uma ou várias agressões caninas? A agressão dirigida para com outros cães é diferente ou igual à dirigida para com as pessoas? A etiologia da agressão é genética ou adquirida? Ou as duas? É a estas e outras perguntas que nos propomos responder neste artigo que consideramos de primordial importância, com o objectivo de elucidar todos aqueles para quem a agressividade é um tabu ou uma área inexpugnável e de difícil abordagem.

Em primeiro lugar, a agressividade faz parte da condição animal. Seria impossível considerar como válida a teoria da evolução Darwiniana – sobrevivência do mais apto – se para se afirmar e passar os seus genes para a geração seguinte, o animal ou o ser vivo não fosse agressivo e não utiliza-se essa agressão para atingir os seus objectivos. Portanto já distinguimos aqui dois tipos de agressão: conservação (status social, alimentação, território, e protecção) e reprodução (eleição e luta pela parceira, protecção e segurança da descendência por parte da mãe)

Etiologia da agressão canina

Temos que dividir em dois grandes grupos as causas da agressão canina:

• Orgânicas (15% dos casos) – consideram-se neste grupo aquelas causas físicas que afectam o animal e que podem ser facilmente detectáveis através de uma simples observação (dor, prurido, debilidade, desorientação...) ou pelo contrário, causas mais difíceis de detectar à primeira vista (hipotiroidismo, hidrocefalia, tumores intra-craneais, epilepsia e outras, como enfermidades víricas, bacterianas ou tóxicas que causam afecções encefálicas e sintomas neurológicos).

• Inorgânicas (85% dos casos) – podem-se considerar neste grupo uma grande variedade de tipos distintos, mas a maioria dos casos que nos chegam às mãos podem-se resumir a três: Agressividade por complexo de controlo (dominância), agressividade territorial e agressividade por medo.

Obviamente não nos vamos pronunciar sobre o primeiro grupo uma vez que as causas deste são puramente clínicas.

Em relação à agressividade por causas inorgânicas queríamos ressalvar que uma conduta agressiva inibe-se, redirige-se e controla-se. Quando um animal agride é porque tem um razão válida para o fazer. Naturalmente desde o ponto de vista humano isto é inaceitável, mas é importante que esta situação seja tida em conta pelo proprietário para que não se gere um sentimento negativo para com o animal que acentue ainda mais o já deteriorado vínculo existente entre o dono e o cão.

Existe uma classificação dos comportamentos agressivos que apresentam os canídeos e que está baseada no estímulo que desencadeia a conduta agressiva. É importante conhecê-la uma vez que nos permite entender um pouco melhor o animal que apresenta este problema.

Os diversos tipos de condutas agressivas são:

Agressão predatória

É uma agressão dirigida àquilo a que o cão considera como sendo uma presa. O exemplo típico é o dos cães que perseguem os ciclistas que passam, ou pessoas que correm.

Agressão entre exemplares do mesmo sexo

É um comportamento muito frequente em locais onde convivem dois ou mais exemplares do mesmo sexo. Nos machos tem a ver com os elevados níveis de testosterona que são gerados em situações de conflitualidade. Nas fêmeas tem a ver com o estabelecimento da ordem hierárquica entre elas.

Agressão por medo

Esta conduta evidencia-se em animais inseguros e de pouco carácter que, ao serem tocados por alguém e não tendo possibilidades de fugir, sentem-se encurralados e mordem. Geralmente não produzem mordidas graves, uma vez que não o fazem com convicção. O seu único objectivo é afastar o estímulo que lhes produz o medo. São animais que não devem ser tratados com brusquidão.


Agressão por dor

É um comportamento que tem uma função protectora para o animal uma vez que é um modo de defesa. Apesar disso, é inaceitável que um animal morda o seu dono quando este, por exemplo, o está a tratar.

Agressão territorial

É um comportamento normal num cão e em muitos casos estimulado pelos próprios donos quando desejam que estes sejam os guardas das suas propriedades. Muitas vezes o animal excede-se nesta conduta e que resulta num problema que há que solucionar. É o caso dos exemplares que tentam morder as visitas, carteiros e qualquer pessoa estranha ao núcleo familiar

Agressão maternal

É um tipo de agressão desenvolvida por cadelas com crias de poucos dias de vida. Tem uma forte influência hormonal e depende da relação que tenha com os seus donos e como desenvolve essa conduta com os mesmos. Normalmente passado cerca de um mês de parir, esta conduta desaparece.

Agressão por Complexo de Controlo (antigamente denominada agressão por dominância)


Este tipo de agressão é a mais frequente de todos os comportamentos agressivos dos cães. Acontece geralmente em machos não castrados e com mais de 1 ano de idade. Tem mais incidência em animais de raça pura devido ao facto de as qualidades estéticas que são valorizadas nas exposições caninas, tais como cauda erecta, porte altivo, cabeça muito levantada, que são similares às atitudes e gestos próprios de animais dominantes.
Um cão que é agressivo por Complexo de Controlo pode sê-lo com todos ou com algum dos habitantes da casa. Devido ao facto de a comunicação entre os canídeos se fazer através de gestos, posturas e contactos corporais fortes e como o cão é um animal social e gregário, os estímulos específicos que desencadeiam a agressão, são os contactos corporais que os seus donos têm com eles, tais como carícias, escovagem, tentativas para colocação da coleira e trela, etc. Para o dono, o ataque do cão não foi provocado uma vez que somente o estava a acariciar, mas para o cão haveria muitas razões para o agredir. Esta é uma situação muito crítica pois a pessoa agredida tem muita dificuldade em compreender a atitude do seu cão. Apesar disso, quase sempre os animais que sofrem do complexo de controlo avisam antes de chegar à agressão directa (iremos falar destes avisos num dos próximos artigos dedicados à comunicação canina). Resumindo, na agressão por complexo de controlo, o objectivo do cão é ser ele a controlar todos os aspectos da vida comunitária do seu grupo, utilizando todos os meios que tem ao seu dispor, isto devido ao facto do dono não ter sido capaz de exercer ele próprio esse controlo.

No próximo artigo iremos falar do diagnóstico e tratamento deste problema condutal.