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17/03/12

DOMINÂNCIA CANINA! O fim de um mito?

2ª Parte

Depois de termos demonstrado, no artigo anterior, que o cão não é um lobo mas sim uma espécie, igualmente pertencente à família dos canídeos, autónoma e com particularidades próprias, vamos neste artigo definir o conceito de “dominância” interpretado segundo as perspectivas tanto do homem, como do lobo, como do cão.

“Dominar”, o que é?

O Dicionário de Língua Portuguesa da Academia de Ciências de Lisboa define o termo “dominar” como sendo “subjugar uma pessoa ou ser animado que oferece resistência usando a força” define igualmente o termo como “obrigar uma pessoa ou um animal a obedecer à sua vontade; ter autoridade ou poder sobre ela; ter ou exercer domínio”.

Perante a definição deste conceito, quem exerce o poder de dominar os outros pode ser considerado um déspota ou um ditador uma vez que, para impor a sua vontade, subjuga os outros através da força e da prepotência. Neste contexto, deixo no ar algumas questões para reflexão dos leitores: Será que os grandes líderes, aqueles que efectivamente fizeram história pelo acerto das suas decisões, precisaram de subjugar o seu povo para fazerem valer os seus pontos de vista? Precisamos de obrigar os nossos filhos, através da força, a obedecer às nossas vontades, vontades essas muitas vezes desprovidas de nexo e de objectividade? Como seres racionais não seria mais lógico utilizarmos a nossa inteligência superior para resolvermos as questões de convivência que nos são colocadas todos os dias pelos nossos amigos caninos? Será que eles não sentem, como nós, quando são maltratados e ostracizados por uma sociedade que não lhes deu a oportunidade de se integrarem através de uma socialização correta e consequente?

Sim, são perguntas inquietantes mas que fazem todo o sentido serem colocadas com o objectivo de desmistificar uma prática que por norma tem sido seguida pelos adestradores de animais, principalmente até ao final do século passado e muitos ainda a praticam apesar do grande desenvolvimento que desde aí se tem vindo a verificar do conhecimento dos mecanismos da aprendizagem animal, pratica essa baseada na subjugação e no medo daqueles que pretendemos ensinar.
Porque é que não aproveitámos já há mais tempo as experiências feitas com os adestradores de golfinhos e baleias no início dos anos 60 do Século XX e que, devido aos excelentes resultados, vieram subsequentemente a serem prática comum nessa actividade? É consensual que nessas situações não se podia adestrar esses animais com base na subjugação e no medo uma vez que isso seria inconsequente devido a razões óbvias.

Já se sabia desde meados dos anos 40 do século passado, através dos estudos do Sr. B.F. Skinner, e os adestradores de golfinhos tiveram o bom senso de aproveitar esses conhecimentos, que a melhor maneira de ensinar animais era através do Condicionamento Operante (comportamento = reforço) demonstrando inclusive que é a vontade do animal que conta na sua própria aprendizagem uma vez que se executar o que lhe for pedido é recompensado e se não o fizer pura e simplesmente não recebe recompensa. Como os animais sobrevalorizam o que os reforça não têm dúvidas em discriminar positivamente e optar por fazer aquilo que lhe oferecerá perspectivas de serem recompensados.

Por outro lado, existe um erro de preconceito ao se achar que tudo o que os cães fazem é com o objectivo de dominar os humanos que com eles convivem. Se isso acontecer é porque não foram socializados e não lhes foi devidamente comunicado que para se viver plenamente inserido numa sociedade só têm que se cumprir algumas regras e que não é necessário agir de forma agressiva para atingir os objectivos que nos cães são, fundamentalmente, a protecção dos recursos.

A “dominância” na perspectiva dos humanos

Ainda reportando às definições da palavra “dominar” dada pelo Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, se as transpusermos para aos nossos cães estaremos a aplicar valores humanos. Na sequência do que foi dito no parágrafo anterior, poder-se-ia argumentar que um cão agressivo tem uma forte presença e mostra-se influente. Mas, não foi ele que decidiu em consciência ter essa forte presença ou influência da mesma maneira que uma pessoa pode decidir tê-las ou não. Portanto, não se deve confundir a agressividade dos cães com “dominância”, são coisas totalmente distintas.

Por exemplo, um adestrador dando uma aula a um grupo de pessoas, provavelmente pôr-se-á em pé no meio da sala, falará com os participantes e fará uma demonstração de como ensinar os cães a fazerem algum exercício em particular. Conscientemente decidiu, pelo facto de que quis livremente dar aquela aula, ter uma forte presença, mostrar-se influente e adoptar uma posição de comando sobre os participantes. Algumas pessoas lutam por postos de responsabilidade na empresa para terem mais gente a trabalhar sob as suas ordens e assumir mais importância. Esta é uma decisão voluntária. Por outro lado, outras pessoas são tímidas ou reservadas e não desejam estar na situação de dar uma palestra a um grupo de gente que está à sua frente a ouvi-lo. Essas pessoas tomaram essa decisão conscientemente. Com todos estes exemplos quero dizer que nós temos a opção de decidir, enquanto que um cão não pode tomar essa decisão de forma consciente. Portanto, a definição de “dominância”, conforme a conhecemos e vem descrita nos dicionários, não pode ser aplicada aos nossos cães.

A “dominância” na perspectiva dos lobos

O Etólogo Luso-Dinamarquês Roger Abrantes define a dominância nos lobos como “um instinto condutor básico de sobrevivência canalizado para eliminar a competição de outro macho”. Por outras palavras, se um lobo quer aceder a um fêmea para acasalar tem que eliminar a ameaça de outros lobos com a finalidade de se converter em “Alfa”. Isto não significa que saia por aí mordendo os outros machos, tal como explica Roger Abrantes: “a hierarquia define-se como uma relação de dominância-submissão que se estabelece e se mantém através de comportamentos ritualizados”.

Para um lobo ser o “Alfa” significa ser ele que tem o direito de procriar e obter descendência. Tendo isto em consideração e de que nós controlamos a maioria, se não todos os recursos dos nossos cães, incluindo se pode ou não procriar, a definição para o lobo é entendida como “um instinto condutor básico de sobrevivência canalizado para eliminar a competição de outro macho” como tal não se pode aplicar aos nossos cães.

Se efectivamente consideramos necessário sermos o “Alfa” sobre os nossos cães, como poderíamos estabelece-lo e mante-lo aplicando comportamentos ritualizados de linguagem canina para que o cão nos entenda? A resposta é: não podemos. Não temos as mesmas orelhas que os lobos, nem cauda; não podemos eriçar os pelos nem mostrar a mesma dentadura ou elevar os lábios do mesmo modo que faz um lobo, nem dilatar as pupilas. Resumindo, nós não estamos equipados com a mesma anatomia de um lobo ou de um cão para sermos capazes de comunicar para que um cão (ou um lobo) nos compreenda. Quero dizer, nós não podemos imitar os comportamentos ritualizados dos canídeos.

A “dominância” na perspectiva dos cães

Nenhuma das definições dadas anteriormente é aplicável ao cão doméstico, portanto tem que haver uma terceira definição de “dominância” que possamos aplicar à relação com os nossos cães. Muita gente crê que se um cão mostra agressividade para com o seu dono está a ser dominante e, como tal, tentando subir na escala hierárquica. Apesar de existir a expressão “agressão por dominância” ela não implica que o cão tenha como objectivo elevar o seu estatuto. A Dra. Karen Overall definiu a agressão por dominância como sendo “a intensificação de qualquer resposta agressiva por parte do cão é uma correcção ou interrupção passiva ou activa do seu comportamento”. Isto significa simplesmente que se um cão sofre de ansiedade devido nossa atitude para com ele, pode tornar-se agressivo.

Não obstante isso, dado que a agressão por dominância baseia-se em algum tipo de problema de ansiedade, a Dra. Overall redefiniu o termo como “controlo do impulso de agressão”. Os cães não são agressivos de forma impulsiva se possuem um temperamento equilibrado, foram bem socializados e não sofreram maus tratos. Mas sabemos que alguns cães podem ser “avassaladores”: põem continuamente à prova os limites a ver até onde conseguem chegar. Acerca desta conduta a Dra. Overall disse: “Não existem evidências de que este tipo de cães seja algo mais que uma variante de um cão normal, e não está associado a nenhum tipo de posto hierárquico artificial… nem tampouco existem evidências de que este tipo de cães tenha desenvolvido algum tipo de agressividade patológica”.

Para corroborar os pontos de vista da Dra. Overall, Lindsay afirma: “muitas expressões de agressividade que se diagnosticam na actualidade como agressão por dominância têm como objectivo evitar algo que entende como aversivo, mais que tentar manter um status social”.

Quer dizer, um cão pode comportar-se de forma agressiva quando o dono não é capaz de ler a sua linguagem corporal. O cão está a tentar comunicar algo mas o dono não interpreta correctamente e não reaciona ou faz de um modo inapropriado. Um cão pode responder de forma agressiva se é maltratado ou se é corrigido de forma severa, pode mostrar-se inseguro em relação ao seu dono ou com as pessoas em geral e possivelmente reaciona de forma agressiva se sucede algo que ele perceba como sendo uma ameaça. Ou pode sofrer naquele momento de algum tipo de ansiedade que o dono não é capaz de reconhecer. Neste caso trata-se de um cão que reaciona (ainda que de forma inapropriada para connosco) perante uma situação no qual não se encontra de todo cómodo.

Muitos terapeutas do comportamento e outras autoridades no mundo dos cães definem a dominância nos nossos cães domésticos como a “protecção dos recursos”. Proteger os recursos acontece quando o cão tenha algo que gosta: é um troféu e tem a intenção ligar-se a ele a todo o custo. Um recurso pode ser qualquer coisa, comida, um brinquedo, o sofá ou inclusivamente o dono. A protecção dos recursos manifesta-se quando um cão pode potencialmente mostrar agressão e esta se intensificaria incorretamente como se estivesse a mostrar “agressão por dominância”.

A Dra. Karen Overall disse que “a dominância é um conceito que encontramos na etologia tradicional e que faz referência à habilidade de um indivíduo em manter ou controlar o acesso a alguns recursos. Não devemos confundi-la com o status”.
A agressão por dominância (ou o controlo do impulso agressivo) baseia-se em algumas formas de ansiedade, não obstante, a protecção dos recursos tem a ver com o cão guardar com vigor algo que deseja. Mas em nenhum caso a agressão por dominância, nem a protecção dos recursos tem alguma coisa a ver com status. Desde o nosso ponto de vista, se queremos classificar um cão como “dominante” a definição de “guardar os recursos” parece ser o conceito mais lógico quando consideramos que o que é verdadeiramente valioso para um cão: a comida, a água, um lugar para dormir, brincar com os brinquedos e muitas outras coisas em função do cão e do seu entorno, mas tudo entra dentro do saco dos recursos. A menos que alguém apresente uma definição que seja mais tangível, “a protecção dos recursos” parece ser a definição mais plausível de um cão “dominante” numa situação cão/dono, mas que fique bem claro ele não tenta elevar o seu status.

08/02/12

DOMINÂNCIA CANINA! O fim de um mito?

1ª Parte

Será um objectivo prioritário dos nossos cães tornarem-se líderes da sua “matilha” para dominarem os seus donos? Lá porque descendem dos Lobos, teremos que adoptar as mesmas estratégias que estes utilizam para os liderarmos? Será que o termo “Alfa” ainda faz sentido? Serão a estas e a outras perguntas que iremos tentar responder numa série de artigos, que iniciaremos este mês, acerca do mito: Dominância inter-específica.

Este é, de certeza, um tema polémico, principalmente para aqueles adestradores e comportamentalistas que não evoluíram e que ainda utilizam métodos de treino e de modificação comportamental baseados em premissas arcaicas segundo o princípio da necessidade de dominar para poder subjugar e, por vezes, torturar os animais com o objectivo de obterem destes os resultados pretendidos: uma submissão baseada no medo e no terror.

Felizmente, nos últimos 10, 15 anos, começaram a aparecer alguns conceituados investigadores (dos quais iremos citar alguns deles durante os artigos que iremos apresentar) interessados em aprofundar estas questões relacionadas com o tipo de simbiose existente entre os humanos e os cães, e as conclusões a que todos eles chegaram foram, no mínimo, surpreendentes, indo em contraponto ao consenso que até aí existia de que devíamos ter uma organização social com os nossos cães baseada no estatuto hierárquico, exactamente como os Lobos têm entre si sendo que, para conseguirmos conviver com eles, teríamos que adoptar também o conceito de “alfa” como existe nas grandes alcateias de Lobos. Esses investigadores vieram dizer-nos que, efectivamente, não é nada disso que acontece com os cães mas tão só que, para haver um equilíbrio na relação humano/cão são só necessárias três coisas: correcta socialização na fase crítica do crescimento do cachorro, conhecimento da linguagem canina para que possamos interpretar os sinais emanados por estes e um consequente adestramento em obediência social, seguindo os princípios do condicionamento operante e sem recurso ao castigo físico.

Vamos então tentar explicar o mais pormenorizadamente possível e com a clareza que se impõe para que o leitor possa compreender os conceitos, por vezes algo técnicos, e assim poder acompanhar-nos na mensagem que queremos transmitir.


E o Lobo torna-se Cão

O zoologista austríaco e fundador da Etologia moderna, Konrad Lorenz (Prémio Nobel da Medicina em 1973) teorizou, na sua obra “E o Homem encontrou o Cão”, que algumas raças de cães domésticos descendiam dos Lobos, outras dos Chacais e outras ainda dos Coiotes. Com a evolução da genética e a introdução do ADN mitocondrial como suporte para a identificação taxonómica das espécies, chegou-se à conclusão que esta teoria de Lorenz estava errada e que tanto o Chacal (Canis Aureus), como Coiote (Canis Latrans) como o cão (Canis Familiaris) são ramificações de uma mesma árvore cujo tronco é o Lobo (Canis Lupus). Queremos com isto afirmar que tanto o Cão, como o Chacal como o Coiote, numa dada altura do seu percurso afastaram-se do seu ancestral, o Lobo e evoluíram noutras espécies totalmente distintas.

No caso que nos interessa, o Cão, as principais razões pelas quais os investigares consideram que este descende do Lobo são as seguintes:

• O ADN mitocondrial de ambos virtualmente é o mesmo (99,8%);
• Têm o mesmo número de cromossomas (78);
• Têm o mesmo número de dentes (42) se bem que os dentes dos cães são mais pequenos que dos lobos.

Estes talvez sejam os únicos traços que são partilhados por cães e lobos uma vez que, ao longo da evolução dos cães como espécie autónoma, foram produzidas mudanças físicas que devemos considerar:

• Mudou a forma e o tamanho do crânio que, dependendo da raça, se encurtou ou se alargou, sendo o Bulldog Inglês um exemplo típico, se bem que nos lebreus (galgos) o crânio se tenha alongado e estreitado. À semelhança do que acontece com o tamanho do indivíduo, os tamanhos do crânio e do cérebro são proporcionalmente mais pequenos que os de um Lobo. Esta redução do cérebro tem como consequência que os sentidos da visão e da audição são menos desenvolvidos nos cães que nos lobos;
• Os cães possuem glândulas sudoríferas nas almofadas das patas, mas os lobos não;
• Os lobos não alteraram o seu porte e colocação da cauda, mas os cães apresentam uma panóplia de posições, tipos e tamanhos.
• As cadelas têm dois cios por ano e iniciam a sua maturidade sexual entre os 6 e os 12 meses podendo entrar em estro em qualquer altura do ano. As lobas têm só um cio e sempre na mesma época do ano, de maneira que os seus lobachos nasçam na primavera quando as temperaturas são mais agradáveis e a comida mais abundante. Além disso as lobas não têm o seu primeiro cio antes dos dois anos de idade.

Ao longo de milhares de anos a grande variedade de raças de cães que foram criadas até aos nossos dias evoluíram do lobo. Durante este tempo, é possível que o lobo tenha modificado muito pouco a sua estrutura física e mental, em contrapartida nós temos produzido, mediante uma combinação de factores naturais e de selecção, raças de todas as formas e tamanhos. O peso de um cão doméstico pode variar dos 680 gr. de um Chihuahua aos 95 Kg. de um São bernardo. O lobo manteve o seu peso, tamanho e coloração do pêlo e não houve alterações pelo menos nos últimos 1000 anos.

Há cães com diferentes posições de cauda e forma das orelhas. Criámos cães com o objectivo de nos ajudarem nas tarefas do dia-a-dia, tais como no pastoreio, na caça, na guarda, puxar trenós, ou como simples animais de companhia. A pelagem de um cão pode variar de cor, tamanho e tipo e, até há raças sem pelo algum. Inclusivamente modificámos o movimento dos cães. No galope dos galgos, a dado momento, têm as quatro patas no ar, algo que se assemelha à corrida dos gatos. Os lobos não correm desse modo. Os lobos adultos não ladram, uivam, os cães, devido à neotenia, ladram toda a sua vida.

O cérebro do cão mudou. Deixou de pensar como o de um lobo que não é. O cão tem prioridades distintas das do lobo: valoriza aquilo que o reforça dentro do seu meio ambiente, como a comida, os brinquedos, os passeios, a companhia e a brincadeira com o seu dono, praticar vários tipos de desportos, etc. O cão deixou de precisar de caçar para se alimentar, de procurar companheira/o para se reproduzir, de guardar para se proteger uma vez que o seu dono humano proporciona-lhe tudo isso.

O desenvolvimento social e comportamental do cão também se alterou na mesma proporção em que se modificou a sua componente física uma vez que, a frequência com que os lobos apresentam padrões motores de sobrevivência diferem substancialmente da dos cães. Por exemplo, têm que aprender mais rapidamente que os cães a resposta de medo: aos 19 dias para um lobo contra os 49 dias para os cães. Os lobos têm que aprender muito rapidamente as habilidades de caça para poderem sobreviver. Um cão doméstico não necessita de aprender as técnicas de caçar e matar. Os valores de sobrevivência do lobo são: Comida, água, um lugar onde possa estar seguro e protegido, companhia dos congéneres e reprodução.

O casal Ray e Lorna Coppinger definiram a sequência dos padrões motores de sobrevivência dos lobos da seguinte forma:

Posicionar-se > fixar o olhar e agachar-se > perseguir > agarrar-morder > matar > dissecar > consumir

Em relação aos nossos cães, faltam-lhes partes desta sequência predatória dos lobos. “Parte da domesticação e da evolução dos cães foi realizada remarcando certas partes da sequência e suprimindo ou deixando em estado latente outras” (James O’Heare)

Por exemplo, o padrão motor do comportamento predatório de um border collie de pastoreio é:

Posicionar-se > fixar o olhar e agachar-se > perseguir > agarrar-morder > matar > dissecar > consumir (Ray e Lorna Coppinger)

Neste caso os padrões de fixar o olhar e agachar-se são os mais reforçantes da sequência. Nota-se a falta de agarrar-morder e matar, apesar disso estes padrões motores estão presentes mas encontram-se num estado latente.

No caso de um Retriever que necessita de trazer as peças de caça com boca branda para não as destruir, a sequência do seu padrão motor é a seguinte:

Posicionar-se > agachar-se > agarrar-morder > consumir
(Ray e Lorna Coppinger)

Assim, por um lado temos um lobo cujos padrões motores de predação não mudaram porque precisa deles intactos para a sua sobrevivência. Por outro temos os nossos cães domésticos de diferentes raças, com padrões motores de predação totalmente distintos e que se adaptaram em cada raça para se ajustarem às distintas funções, ou como animal de companhia ou como cão de trabalho.

Sobre as diferenças de comportamento entre um lobo e um cão doméstico, Steven Lindsay disse: “Ao longo da história da domesticação se segregou os cães dos lobos pelo seu comportamento e um deles deve ter tido o cuidado de não realizar excessivas generalizações entre os dois canídeos no que se refere às suas respectivas motivações e padrões de comportamento”.

Depois de analisado em pormenor a evolução do cão e a sua separação do lobo, temos que este (Canis Lupus) permaneceu sem alterações durante centenas de anos e temos o cão doméstico (Canis Familiaris) que mudou na sua aparência e no seu comportamento e que agora pode fazer muitas coisas que são completamente estranhas ao lobo. Os cães estão neste momento tão afastados dos seus ancestrais como nós estamos afastados dos nossos cães.

No próximo mês iremos continuar com este tema da dominância canina.