A
introdução da caixa, mais conhecida por caixa transportadora, no dia-a-dia dos
nossos cães é relativamente recente. O próprio nome é indicativo da utilidade
que lhe era, e é dada – servia e serve para transportar os animais, principalmente
nas viagens de avião e, posteriormente, devido ao seu fácil manuseamento e à
sua portabilidade uma vez que é construída num material leve, o pvc, foi também
adaptada para o transporte nos veículos automóveis.
Recentemente
começaram a ser descobertas as enormes vantagens que este acessório também tem
ao nível do adestramento, da educação e principalmente do bem-estar dos cães e,
como consequência, dos próprios donos.
A desmistificação do
conceito “confinamento”.
O
grande óbice que é colocado a uma utilização mais frequente da caixa transportadora
na educação canina é a ideia enraizada, que a grande maioria das pessoas têm,
de que este é um instrumento de tortura e clausura, uma vez que os animais
ficam confinados a um pequeno espaço do qual nem se mexer podem e, isso sim, é
muitas vezes erradamente utilizada como castigo por um qualquer acto reprovável
que o animal tenha cometido. Quem nunca ouviu o termo: “portaste-te mal, vais
para a caixa!”?
Nada
mais errado.
O
princípio que está subjacente à utilização deste importante acessório na
educação dos nossos cães está alicerçado na maneira como os seus ancestrais, os
lobos, utilizam um equipamento semelhante, mas mais rudimentar, que é a sua
toca. Este pequeno buraco feito na terra ou entre pedras é tão importante para
eles que o defendem com a própria vida, se for necessário. E porquê? Porque é o
seu espaço, é aí que descansam, que dormem, que se abrigam, onde se protegem,
onde têm e criam os seus filhos, enfim, é o seu pequeno mundo e por isso é um
recurso tão importante e ao qual eles dão tanto valor e que o protegem tão
afincadamente.
Como
sabemos, os lobos deambulam e caçam principalmente ao nascer e ao final do dia,
todo o resto do tempo passam-no nas suas tocas a descansarem e protegerem-se do
calor, e de noite para dormirem, portanto, passam pelo menos 20 horas do seu
dia refugiados no seu bem tão precioso que é a toca, e não julguemos que esse
espaço é tão amplo como uma caixa transportadora, por exemplo, não, é uma
pequena galeria onde não conseguem andar senão rastejando, mas é deles e é ali
que se sentem bem e seguros, podendo assim descansarem com absoluta segurança.
Para
os nossos cães a caixa tem o mesmo valor que a toca tem para os lobos. Se a
habituação for a correcta, os cães encaram a caixa como sendo o seu pequeno
mundo onde podem descansar, onde dormem mais confiantes sem a possibilidade de
serem constantemente incomodados com os movimentos normais dos donos nas suas
lides diárias e, inclusivamente, onde podem até brincar com os seus brinquedos
favoritos sem terem que os partilhar.
Não.
O estar na caixa não é considerada uma clausura para os cães, mas sim a
possibilidade que eles têm de, como os seus ancestrais, se poderem recolher e
descansar quando disso necessitem sem serem incomodados, exactamente como nós
quando nos recolhemos aos nossos quartos.
Os enormes benefícios
da utilização da caixa
- § Como já dissemos anteriormente, a primeira e mais importante mais- valia da utilização da caixa é a possibilidade que os cães têm de disfrutar da sua privacidade e poderem descansar e dormir mais comodamente sem serem importunados. Como consequência disso, quando acordam ficam mais activos, mais bem dispostos e prontos para a interacção com os seus donos;
- § Permite aos donos uma maior liberdade nos seus afazeres diários sem ter sempre o cão como sua “sombra”, permitindo também uma diminuição do hiperapego, se ele já existir, tão prejudicial para o correcto e saudável relacionamento entre o dono e o seu cão;
- § Muito maior facilidade no treino dos comportamentos de eliminação inadequada em cachorros e cães adultos. Os cães não eliminam onde dormem ou descansam e, como sabemos, normalmente fazem as suas necessidades depois de dormirem ou descansarem, sendo assim, a utilização da caixa permite-nos, logo que começam a ficar activos dentro da caixa, levá-los rapidamente para o local definido para a eliminação sem terem possibilidades de o fazer em local que não seja o adequado;
- § A utilização da caixa é uma ferramenta de inestimável importância no tratamento de uma patologia tão comum nos cães que vivem em apartamentos: a ansiedade por separação. Através dela e associada a um parque de maiores ou menores dimensões, em função do tamanho do animal, podemos delimitar o espaço que tem disponível para utilizar durante o período em que se encontram sozinhos em casa e, se além disso, dispuserem de brinquedos inetractivos com que se entretenham e rádio ou televisão ligados, permite prevenir os comportamentos destrutivos, a automutilação, e as vocalizações exageradas tão comuns nesta patologia;
- § É uma ferramenta de fundamental importância no ensino das regras e rotinas aos cachorros quando estes chegam à sua nova casa e são inseridos numa nova estrutura familiar. Com ela, além de os podermos ensinar a eliminarem num local adequado, indicamos-lhe logo de início onde dormir e descansar, quando o deve fazer, quando pode passear, quando e onde pode comer uma vez que passará a fazê-lo dentro da própria caixa, porque todas estas actividades irão estar ligadas ao se manterem ou não na caixa;
- § E por fim, fazendo jus ao nome, é um objecto fundamental para o transporte do cão não só de avião como de automóvel. Neste último caso, o facto de o animal ser transportado dentro de uma caixa e não nos bancos dianteiros ou traseiros, pode fazer a grande diferença de um acidente ter mais ou menos consequências em função da sua gravidade, tanto para o cão, como para o condutor e acompanhantes, como ainda para estranhos envolvidos no acidente.
A habituação do cão à
caixa
Ao
contrário do que possa parecer, a habituação do cão à sua caixa é um processo
fácil e rápido, principalmente se o mesmo for feito ainda em cachorro e de uma
forma correcta e assertiva, o que não quer dizer que o mesmo não se possa fazer
com um cão adulto.
Regra básica nº 1:
associar sempre a caixa a algo agradável e nunca a um castigo recorrente de
algo que o animal tenha feito de errado.
Para
que o cão vá por vontade própria para a caixa, tem que haver aqui sempre algo
de muito agradável para ele: biscoitos, guloseimas, uns pedaços de queijo, de
salsicha, um brinquedo que ele adore, etc., qualquer coisa muito interessante
para ele e que o motive a entrar na caixa de livre vontade. O dono também pode
ajudar a motivar o cão com muitas festas e palavras de incentivo.
No
início, a porta da caixa mantém-se aberta enquanto ele disfruta das coisas
agradáveis que lá estão, a pouco e pouco vamos começando a fechar a porta por
pequenos períodos, de início só o tempo que ele demora a comer as guloseimas. Depois,
a porta irá manter-se fechada por períodos cada vez maiores: 2 minutos, 5 minutos,
10 minutos, etc. Devemos aproveitar as alturas em que sabemos que ele vai
descansar para o incentivarmos a fazê-lo dentro da caixa. O que é importante
neste processo é que ele saiba que não vai ficar fechado eternamente mas sim o
período necessário para o seu descanso.
O que não se deve
fazer
- § Como já dissemos anteriormente, nunca devemos associar a caixa a qualquer espécie de castigo. A caixa, na cabeça do cão, tem que estar sempre ligada a coisas muito positivas e agradáveis;
- § Por razões óbvias, o animal nunca deve estar fechado na caixa por mais de 4 horas de forma contínua, excepto durante a noite enquanto dorme;
- § A caixa nunca deve ser aberta enquanto o animal estiver a bater na porta ou a ladrar, se isso for feito ele associa o seu acto à abertura da porta, consequentemente sabe que sairá sempre que quiser;
- § Somos nós que decidimos quando devemos abrir a porta da caixa e deixar sair o cão e não ele que pelas suas atitudes impõe que esta lhe seja aberta.
Resumo
Ao
contrário do que se possa pensar e pela experiência que tenho com os meus cães,
eles adoram a sua caixa (toca). Se o processo de habituação e cumprimento das
regras for bem executado, o nosso cão ir-se-á deslocar para o seu abrigo sempre
que sinta necessidade de dormir ou descansar, com as consequências altamente
positivas que esse facto tem no bem-estar dele e nosso, promovendo assim uma sã
convivência entre nós e o nosso amigo de quatro patas.