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17/12/10

ENSINO DA TÉCNICA DE INIBIÇÃO DE MORDIDA

EM CACHORROS DESESTRUTURADOS E EM CÃES AGRESSIVOS ADULTOS

É um quadro sempre muito desagradável de ver, e bastante doloroso para quem o sente, os braços de uma senhora, por exemplo, cravejados de vergões e arranhões provocados pelos dentes de um cachorro que, ao excitar-se, “mima” incontroladamente a dona com os dolorosos efeitos provocados pela sua protuberante e contundente dentadura.

No período conturbado que vivemos actualmente, cada vez se está a estigmatizar mais a mordida dos cães. Até um dos critérios que levaram à criação da famigerada lista de cães potencialmente perigosos foi o da potência de mordida. Normalmente, na natureza, os cachorros de Lobo conseguem conter-se em relação à intensidade da mordida nas brincadeiras entre si, uma vez que, assim que um morde mais fortemente o seu parceiro este emite um grito de dor anunciando ao outro que foi longe de mais nas suas pretensas inofensivas brincadeiras.

Nos cachorros do nosso cão doméstico, o desenvolvimento desta aprendizagem é basicamente o mesmo e, normalmente, quando se dá possibilidades e tempo à ninhada para que este processo funcione, o cão aprende que morder pode provocar dor ao próximo e que isso poderá, muitas das vezes, não constituir um reforço, não só porque assim acaba a brincadeira mas também porque o atacado pode-se transformar num forte e destemido atacante, portanto, não é compensador.

Basicamente, é este o princípio que vamos utilizar no nosso trabalho de inibição de mordida, não só em cachorros que não tiveram oportunidade de aprender a técnica, porque foram separados prematuramente do resto dos irmãos, porque nasceram isolados ou por outro motivo qualquer, e em cães agressivos adultos que, pelos mesmos motivos dos cachorros, não sabem que a sua mordida pode ser doseada em função dos objectivos que pretende atingir.

O Conceito

A inibição de mordida é simplesmente a diminuição da quantidade de pressão que o cão realiza com os dentes quando entra em contacto com a nossa pele. Num mundo perfeito os cães aprendem esta técnica durante a sua socialização intra-específica enquanto cachorros, mas muitos não têm essa oportunidade, pelas razões que acima mencionámos. Os nossos objectivos, ao ensinar a técnica de inibição de mordida são vários: este adestramento não só ajuda o cão a compreender a pressão que exerce nas suas mandíbulas, mas também lhe é ensinado a auto-controlar-se em circunstâncias em que se sentirá excitado e estimulado. Além disso podemos utilizar estes jogos para reorientar parte da frustração e da energia física que podem ser os causadores do exacerbar do problema num dado momento.

O Desenvolvimento do processo
Mordidas brandas a médias de níveis 1 a 3


O desenvolvimento da técnica da inibição de mordida em cães adultos com uma potência de nível 1 a 3 (branda a média) pode-se estabelecer criando situações em que iremos proporcionar feedback ao cão. Podemos utilizar objectos em que a nossa mão entra em estreito contacto com os dentes do cão, como é o caso de uma pequena bola ou pequenos pedaços de biscoitos para cão. Para garantir o êxito do processo devemos fazer os exercícios só depois dele comer, já que a sua mordedura será mais suave se não estiver com fome. Pelo contrário, com um cão que não se motiva pela comida, assim como aquele que arranca as coisas das nossas mãos, o exercício obterá melhores resultados se for executado antes da refeição. Devemos permanecer sempre tranquilos enquanto executa-mos os exercícios, excitar o cão pode fazer com que ele perca o controlo da mordida e caminhamos inevitavelmente em direcção ao fracasso.

Utilizamos um truque muito utilizado pelos adestradores de cavalos, mantemos os prémios (bola ou pequenos pedaços de comida) entre as pregas da palma de uma das nossas mãos. Isto obriga o cão a usar os lábios e a língua mais do que os dentes. Só quando o cão aprender totalmente esta fase é que passaremos à seguinte que consiste em lhe oferecer o prémio entre os dedos. Sempre que o cão tocar com os dentes nos nossos dedos, emitimos um grito de dor: “Ai!”, por exemplo, e terminamos o exercício abandonando imediatamente o cão e levando connosco o motivador, se for possível. Continuamos com o exercício até que o cão se mostre obviamente mais sensível nas mandíbulas continuando, ao longo da sua vida, a introduzir intencionalmente os dedos na sua boca quando lhe oferecemos comida ou brinquedos.

Quando o cão já consiga deixar de aplicar pressão, introduzimos ordens de obediência no exercício:

Começamos com níveis muito baixos de excitação, fazemos com que o cão se sente antes de iniciar o exercício. Quando melhorar a sua capacidade de inibição de mordida, podemos fazê-lo com diferentes níveis de excitação. Isto melhora o auto-controlo do cão.

Reciclagem


Se acharmos que uma mordida foi acidental, pensemos que estes são os mesmos animais que conseguem apanhar uma mosca no ar só com um abrir e fechar de boca, portanto, se foi um acidente temos que os ensinar a serem um pouco mais precavidos e cautelosos. Temos que realizar de vez em quando os exercícios aprendidos para que se recordam deles e que não passem ao esquecimento. Têm também a vantagem de os ajudarem a desenvolver a atenção mas tem igualmente efeitos na mordida na vida real que se torna mais controlada e com um nível de intensidade proporcional às necessidades. Se, entretanto, se activa a resposta luta/fuga ou os mecanismos de predação, a inibição de mordida que lhes temos ensinado terá diferentes graus de efeito no resultado da mordida. É uma das consequências do programa de tratamento porque o adestramento também ajuda a melhorar o auto-controlo. Lembramos que, devido à gravidade deste problema, temos que lutar com todas as armas que temos para controlar e minimizar este comportamento.

Mordidas médias a fortes níveis 4 a 6


Desenvolver a técnica de inibição de mordidas de nível 4 a 6 (média a forte) é um assunto totalmente diferente que deve ser efectuado por um profissional competente e com muita experiência nesta área, como tal, e por motivos de segurança, não a incluo neste artigo.