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12/09/08

A Comunicação Canina - "Sinais e Displays"

A exemplo do que acontece em todas as espécies, os “sinais” no cão são uma forma de comunicação, imprescindíveis quando um individuo quer transmitir algo “importante” e que tenha a ver com a sua sobrevivência ou reprodução.

Um “sinal” só pode considerar-se como tal, quando ao ser lançado pelo emissor, consegue modificar o comportamento do receptor. Queremos dizer com isso que se este não acusa a recepção, a comunicação não está correcta e o emissor fracassou na sua intenção de comunicar algo.

Entre os humanos é normal comunicarmos sem obtermos resposta. Se quando falamos em público, coçamos a barba ou cofiamos o bigode, o que realmente queremos dizer é que encontramo-nos inquietos ou nervosos e o que percebe o receptor é: “a barba e o bigode picam-lhe”.

A educação, cultura ou comportamentos adquiridos, levam-nos inclusivamente a mudar de passeio se vemos um individuo embriagado cambaleando. Para nós é um sinal de perigo quando, realmente o que quer comunicar o emissor, é: “sinto-me mal”. Afinal ninguém entende o nosso nervosismo ao falar em público nem o pobre embriagado que, em vez de receber ajuda, provoca repulsão quando não, medo.

Efectivamente nos dois exemplos expostos, o receptor não modificou a sua conduta e, se o fez não foi no sentido pretendido pelo emissor. Queremos dizer que o que foi transmitido não foi um “sinal”. Portanto podemos definir uma comunicação autêntica como: “processo pelo qual os emissores usam “sinais”, especialmente desenvolvidos para modificar o comportamento dos receptores”

Resumindo, a Comunicação só existe quando emitida por “A” afecta a conduta de “B”.

O “sinal” entre os animais actua de três formas:

a. Resposta imediata do comportamento do receptor.
Cão gane, guia observa.

b. Resposta subtil.
Macho marca território e outro cão desvia-se.

c. Espaçados no tempo.
Cachorro destrói algo durante a noite, guia aborrece-se ao amanhecer.

Os “sinais” são construídos pelo cão, para comunicar:

a. Gregarismo.
Movimento da cauda, gemidos ou lamentos.

b. Cortejo.
Exibição de caracteres sexuais secundários.

c. Luta.
Comunicações agonísticas

As comunicações e seu tipo, são muito influenciadas pelo meio e pelo habitat. Assim há canídeos que lançam uivos e humanos que se comunicam por assobios, mais fáceis de detectar em áreas montanhosas e a longa distância.

Por outro lado, pensa-se que os “sinais” evoluíram a partir de outros mais simples (Lorenz e Timbergen). O cão mostra os dentes como ameaça, porque também o faz para comer. Portanto o agachar-se, também pode ser entendido como um “sinal” da ameaça.

Quando os “sinais” se encadeiam aparecem os “displays” que podemos definir como sendo “conjunto de atitudes que predissem um comportamento complexo”. É muito importante que o adestrador “aprenda” a distinguir entre “sinais” honestos e desonestos no cão. Na espécie canina, exactamente como na humana, a comunicação desonesta evoluiu. É comum encontrarmos cães que desenvolvem um “display” impressionante de ataque que inclusivamente chegam a convencer os seus próprios donos que atacam qualquer intruso, e, como tal, seriam capazes de defender a família de qualquer agressão. Mas a presença de um figurante corajoso faz com que o animal mude toda essa parafernália de ataque por condutas de fuga ou no mínimo de evitação.
Vejamos como na natureza também existem os “sinais” honesto e desonesto. Os animais quando “decidem” enfrentar-se levam a cabo duas classes de “displays” de informação:

1. Sobre força.

2. Sobre intenções.

Na informação sobre força é muito difícil mentir. Os gorilas batem contra o seu peito com enormes ramos e os mais fortes reiteram. Se o gorila decidiu comunicar com desonestidade mente sobre a sua força, acabará ferindo o seu peito antes de partir o ramo. Quando o animal informa sobre intenções vem dizer-nos algo como: “vou atacar-te” ou “penso resistir muito”. Isto é como jogar ao Poker e chegamos à conclusão que este tipo de informação não pode contribuir para a evolução da espécie.

Porque terão evoluído os cães? Como dizíamos atrás, o cão é uma espécie humanizada e como tal, sabe que o homem e outros cães por vezes impressionam-se com as suas “mentiras”. Entre eles a evolução é menor porque é mais difícil enganar um congénere do que um apreensivo humano.
Extrapolando o conceito da sucessão de atitudes num “display” no mundo canino vemos como os cães antes de se decidirem a atacar, executam com rigor as comunicações agonísticas: exibição de força, olhar fixo no oponente, ligeiro agachamento, vocalizações específicas e demonstração das suas defesas. Para um homem ou mulher não identificados com comportamento canino, isto é um “ataque em toda a escala” e a fuga espontânea perante o animal só contribui para o fazer ganhar outra batalha. Quantos cães de pouco carácter chegaram a morder a sério por correrem atrás de pessoas com medo e inseguras! Esta técnica de demonstração de medo será tratada em próximos artigos.

02/09/08

Relação com a espécie Humana

Desde sempre os cães trataram de se adaptar ao homem em todos os factores que os rodeiam. Assim adquiriram uma riqueza fónica superior ao da do Lobo, utiliza o nicho trófico do humano (alimenta-se do mesmo que este) e inclusivamente, mudou a sua morfologia para poder acompanhar o seu amigo na viagem dos tempos. O que nunca poderá evitar é deixar de se integrar num sistema hierárquico de grupo imprescindível para a sua própria sobrevivência. Se nas suas relações com o homem não estiver claro qual é a espécie dominante, ambos terão sérios problemas de adaptação mútua.

O adestrador, guia ou dono deve induzir no seu cão que ele, o humano, é o espécimen que está acima do próprio dominante da matilha. Como nós os humanos, possuímos algo que falta ao cão (uma inteligência quantitativamente superior), a tarefa é bastante fácil. Em termos gerais podemos dizer que a “única” coisa que devemos fazer é integramos na sua pirâmide hierárquica e colocarmo-nos no vértice, em primeiro lugar. Esta acção obriga-nos, como bons dominantes, a:

- Premiar qualquer conduta adequada.
- Castigar a desobediência.
- Administrar-lhe o recurso.
- Manter, na medida do possível, o seu êxito reprodutor.
- Não o castigar brutalmente (excepto em caso de disputas de nível hierárquico).

Um cão que é protegido pelo seu líder deve ver satisfeitas todas as suas necessidades, mas também deve saber quando ladrar ou calar-se na sua presença, morder ou deixar que lho “faça” o seu líder, acercar-se de uma fêmea ou “observar” a expressão do seu chefe… Em definitivo, nós devemos comportar-nos com ele como cão dominante e ele, como cão subordinado.

O conceito de castigo ou brutalidade deve ser analisado conscientemente antes de se decidir a aplicá-lo. Os cães não sentem a dor como nós, quer dizer, as suas manifestações não são as mesmas. Se bem que a concepção de dor implica as mesmas terminações nervosas que no homem, o seu nível de percepção é muito distinto do nosso. Inclusive entre as raças ou entre indivíduos da mesma raça esse nível varia de uma forma ostensiva.

O Humano deve ser o “SUPERALFA”

Muitos adestradores, guias ou donos, têm por habito integrar-se na hierarquia tentando assim, que o cão nos tome por macho ou fêmea Alfa da sua matilha, sem pensar que é impossível que o nosso cão nos “confunda” com outro cão Dominante. Ele sabe muito bem a que espécie pertencemos e a qual ele pertence. A nossa missão portanto, será a de nos impormos ao Alfa da matilha, ou seja, convencê-lo de que se ele é o Alfa, nos somos o SUPERALFA.

A sua relação com os humanos foi estabelecida antes do Neolítico e está baseada num Comensalismo ou, nalguns casos, numa relação de Simbioses. Esta relação contribui em cada espécie para o seguinte:

No cão

- Melhora a sua atitude em relação à sobrevivência já que obtém comida, evita a depredação e optimiza o seu Êxito Reprodutor.
- Melhora a sua atitude gregária e social, porque se integra numa sociedade mais ampla.

No Homem

- Pode optimizar a segurança o mesmo é dizer, a sobrevivência do seu grupo humano.
- Optimiza a necessidade gregária que também o homem possui.
- Nalguns casos pode, inconscientemente, converter-se num terapeuta que eleve a taxa de atitude humana, diminuindo os perigos de certas doenças (depressões, demências, etc.)