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24/11/09

Os Processos de Aprendizagem no Cão

Em termos gerais entende-se por aprendizagem, qualquer mudança de conduta de um animal, numa situação determinada, que é atribuída à sua experiência prévia com essa situação ou com outra que compartilhe certas características. Excluem-se por tanto, as mudanças que se devem à adaptação sensorial, à fadiga muscular, a possíveis danos físicos ou à maturação mental.

Podemos assim chegar à conclusão que um cão aprendeu algo, quando observamos uma mudança significativa no seu comportamento mas, temos que distinguir entre aquelas mudanças que se devem à aprendizagem das que se podem atribuir a outras causas. Se um cachorro procura comida num determinado local, e que algumas horas antes não o fazia, pode-se dever esta conduta a que agora esteja com mais fome que antes e que o que mudou foi o seu estado motivacional.

Foram propostas diversas classificações para os distintos tipos de aprendizagem:

1. Aprendizagem não associativa

Quando, depois de várias ocasiões nas quais se expõe o animal a um estímulo, este deixa de licitar uma resposta, diz-se que se produziu uma habituação. Podemos assegurar que, se a habituação está tão estendida no reino animal, deve ter uma grande importância biológica na hora de descriminar e tomar decisões apropriadas a cada situação evitando o gasto inútil de energia que implicaria o responder de forma repetida a estímulos que a experiência demonstra que são irrelevantes. Um cão jovem é normal que ladre a qualquer coisa (inclusive a uma mosca). Quando passa à fase juvenil o ladrar sem necessidade só implica um gasto de tempo e sobretudo de energia sem obter consequências positivas.

A aprendizagem também pode causar o aparecimento de novas respostas em vez da extinção das antigas. A este mecanismo dá-se o nome de sensibilização. Assim, um cão pode dirigir certas respostas em função de um estímulo, previamente neutro, depois de haver sido exposto a estímulos motivacionalmente importantes como o alimento (+) ou um castigo físico (-).

2. Aprendizagem associativa

Caracteriza-se porque o cão aprende a associar dois estímulos unidos no tempo. No condicionamento clássico ou Pavloviano, o primeiro estímulo é o condicional (uma luz, som, etc.) e o segundo o incondicional (alimento, água ou carícias). A vantagem da mudança para o condicionamento operante ou instrumental, primeiro é o sucesso de uma resposta comportamental do cão mais assertiva e o segundo, é a consequência que obtém desse comportamento. Tanto utilizando um método como o outro, a consequência será sempre reforçante.

A capacidade de aprender através destes dois tipos de condicionamento, resulta num grande valor adaptativo porque permite ao cão fazer com que seja mais previsível tudo o que ocorre no seu meio ambiente e responder com um comportamento mais adequado. Não obstante, o condicionamento operante é o melhor método dos dois porque permite ao cão desenvolver uma grande capacidade de “inventar”. Se para além disso, o animal, possuir uma certa capacidade cognitiva, o repertório pode aumentar exponencialmente. Noutras palavras, graças à aprendizagem associativa, o cão pode identificar relações de contingência e relações causais entre acontecimentos externos e o seu comportamento e os efeitos que estas podem ter.

3. Aprendizagem latente

Existem ocasiões em que um animal adquire informação do seu meio ambiente sem necessidade de obter uma resposta concreta e imediata. A este tipo de aprendizagem dá-se o nome de latente. Sabe-se que a informação está aí porque, dadas as condições apropriadas, o organismo faz uso dela. Normalmente adquire-se por exploração e pode ser de um grande valor adaptativo. Em liberdade poderia, por exemplo, ser a diferença entre ser depredado ou não. Quase todos os animais mostram precaução perante uma coloração apossemática (que não é venenosa) ou de advertência que exibem as suas possíveis presas.

4. Aprendizagem súbita

Tem lugar quando um indivíduo é capaz de resolver um problema sem recorrer ao processo tentativa / erro. Noutros termos, poderá dizer-se que o cão é capaz de usar informação, obtida num dado contexto, para resolver mentalmente, um problema surgido noutro contexto diferente.

Quando um animal resolve uma situação rapidamente, devido à experiência adquirida na resolução de outras similares, diz-se que desenvolveu estratégias de aprendizagem (learning sets). Realmente estas estratégias são de um grande valor adaptativo porque poupam ao cão uma grande quantidade de tempo na aprendizagem que de outro modo, se perderia se tivesse que resolver cada problema em separado. Em termos de adestramento chamamos a este conceito capacidade de resolução.

5. Aprendizagem social

Os animais que vivem em grupos sociais – como é o caso do cão – são capazes de aprender com outros indivíduos da sua espécie. É normal os primatas aprenderem a usar “ferramentas” para se alimentarem e inclusivamente, o uso de plantas medicinais. Nos cães que vivem em “matilhas mais ou menos livres” podemos observar como os cachorros que não tenham sido condicionados a um estímulo, reagem frente a ele, como viram fazer os seus progenitores.

Resumindo

De todas as formas de aprendizagem a mais utilizada, devido aos seus bons resultados, é a associativa instrumental ou operante. Realmente é aquela que preconizamos e utilizamos no nosso trabalho ainda que, logicamente ajustada à capacidade de cada indivíduo, e à sua raça.

O problema do adestrador complica-se sempre que, em vez de utilizar um rato de laboratório, indefeso perante as nossas manipulações, se enfrenta com um animal que não tem “nenhuma vontade” de se submeter a nenhum condicionamento e que para além disso se sente apoiado pelos seus dentes e pelo seu dono. Nunca vimos nenhum cão contente no primeiro dia que lhe colocamos a coleira e o obrigamos a adoptar uma postura de submissão. Com o passar do tempo e se a aprendizagem a que foi submetido é a correcta, voltará louco de alegria ao ver “o instrumento de tortura” nas nossas mãos.