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24/09/13

Será que os cães consideram as crianças como pequenos seres humanos?

A visita que dois dos cães do Centro Canino de Vale de Lobos fizeram a um jardim de infância com o objectivo de demonstrarem a cerca de 100 crianças, com faixas etárias dos 3 aos 5 anos, que um cão pode efectivamente ser um grande amigo e, principalmente a forma como eles interagiram com as crianças proporcionando a estas momentos de puro deleite, levou-me a reflectir sobre a convivência entre cães e crianças e a questionar-me se de facto eles as vêm como seres humanos numa escala mais reduzida.

Actualmente, há investigadores empenhados em estudar esta área tão complexa e que têm chegado a conclusões no mínimo inesperadas. Nesse sentido, gostava de partilhar algumas das palavras do investigador Inglês John Bradshaw e que vamos citar do seu último livro “Dog Sense” (2011)

“Mesmo que os cães possam ter várias categorias «amigáveis» de forma simultânea (capacidade que é incomum entre os mamíferos), todo o indivíduo tem os seus limites. Isso está bem exemplificado pela desconfiança que alguns cães nutrem em relação a crianças. Como sabem os cães que as crianças são seres humanos pequenos e não uma espécie inteiramente diferente? A resposta, ao que tudo indica, é que eles não sabem. As crianças são marcadamente diferentes dos humanos adultos em muitas coisas – a forma como se movem, os sons que produzem, e provavelmente, o que é de significação específica para os cães, o cheiro que emitem. Cães que nunca estiveram expostos a crianças quando cachorros podem ficar muito desconfiados delas quando se encontram pela primeira vez já adultos, embora, sendo cães, possam vir a ser treinados para vencer essa relutância inicial. Por outro lado, se no seu primeiro encontro com uma criança tiverem as suas caudas e as suas orelhas em posição de alerta, tais cães se tornarão irritáveis e mal-humorados com outras crianças. O cão generaliza as crianças, tratando-as como uma categoria e não como indivíduos. Do mesmo modo, durante a socialização, os cachorros precisam generalizar entre um adulto e outro. Embora os cachorros decerto cheguem a reconhecer algumas pessoas como indivíduos, gente estranha será presumivelmente categorizada como «amigável» com base na sua similaridade com as primeiras poucas pessoas que o cachorro conheceu.

Por isso é tão importante (de forma calma e simpática) apresentar os cachorros a um espectro tão amplo de gente quanto for possível: tanto homens como mulheres (pessoas que vistam diferentes tipos de roupa), homens com barba, assim como homens bem barbeados, e assim por diante. Esse procedimento ajuda a expandir os limites do que o cão categoriza como «ser humano adulto». Se o gabarito for muito estreito, talvez porque o cachorro conheça apenas uma ou duas funcionárias do canil durante todo o seu período sensitivo, ele pode reagir à aparição de homens com medo e ansiedade. Essa é uma das (muitas) razões porque os donos têm dificuldades com cães provenientes de «produtores industriais de cães» ou de pet shops: o conceito que fazem os cachorros sobre a aparência da raça humana é, com frequência, muito restrito, e eles reagem de forma padronizada ao evitar, com temor, qualquer outro animal de duas patas com que se defrontem”

Na sequência do que John Bradshaw argumentou, atrevia-me a perguntar: será que os cães vêm os homens e as melhores como pertencendo à mesma espécie?

Porque este é um conceito totalmente inovador, carece de mais investigação, mas pelos sólidos argumentos apresentados pelos investigadores, penso que merecem da nossa parte um voto de confiança na continuação das investigações.


Apesar disso, não deixa de ser um tema que merece, pelo menos, um acto de reflexão da nossa parte e pensemos assim: será que não faz algum sentido as conclusões que chegaram até agora os investigadores?     

Sílvio Pereira