A visita que
dois dos cães do Centro Canino de Vale de Lobos fizeram a um jardim de infância
com o objectivo de demonstrarem a cerca de 100 crianças, com faixas etárias dos
3 aos 5 anos, que um cão pode efectivamente ser um grande amigo e,
principalmente a forma como eles interagiram com as crianças proporcionando a
estas momentos de puro deleite, levou-me a reflectir sobre a convivência entre
cães e crianças e a questionar-me se de facto eles as vêm como seres humanos
numa escala mais reduzida.
Actualmente,
há investigadores empenhados em estudar esta área tão complexa e que têm
chegado a conclusões no mínimo inesperadas. Nesse sentido, gostava de partilhar
algumas das palavras do investigador Inglês John Bradshaw e que vamos citar do
seu último livro “Dog Sense” (2011)
“Mesmo que os cães
possam ter várias categorias «amigáveis» de forma simultânea (capacidade que é
incomum entre os mamíferos), todo o indivíduo tem os seus limites. Isso está
bem exemplificado pela desconfiança que alguns cães nutrem em relação a
crianças. Como sabem os cães que as crianças são seres humanos pequenos e não
uma espécie inteiramente diferente? A resposta, ao que tudo indica, é que eles
não sabem. As crianças são marcadamente diferentes dos humanos adultos em
muitas coisas – a forma como se movem, os sons que produzem, e provavelmente, o
que é de significação específica para os cães, o cheiro que emitem. Cães que
nunca estiveram expostos a crianças quando cachorros podem ficar muito
desconfiados delas quando se encontram pela primeira vez já adultos, embora,
sendo cães, possam vir a ser treinados para vencer essa relutância inicial. Por
outro lado, se no seu primeiro encontro com uma criança tiverem as suas caudas
e as suas orelhas em posição de alerta, tais cães se tornarão irritáveis e
mal-humorados com outras crianças. O cão generaliza as crianças, tratando-as
como uma categoria e não como indivíduos. Do mesmo modo, durante a
socialização, os cachorros precisam generalizar entre um adulto e outro. Embora
os cachorros decerto cheguem a reconhecer algumas pessoas como indivíduos,
gente estranha será presumivelmente categorizada como «amigável» com base na
sua similaridade com as primeiras poucas pessoas que o cachorro conheceu.
Por isso é tão
importante (de forma calma e simpática) apresentar os cachorros a um espectro
tão amplo de gente quanto for possível: tanto homens como mulheres (pessoas que
vistam diferentes tipos de roupa), homens com barba, assim como homens bem
barbeados, e assim por diante. Esse procedimento ajuda a expandir os limites do
que o cão categoriza como «ser humano adulto». Se o gabarito for muito estreito,
talvez porque o cachorro conheça apenas uma ou duas funcionárias do canil
durante todo o seu período sensitivo, ele pode reagir à aparição de homens com
medo e ansiedade. Essa é uma das (muitas) razões porque os donos têm
dificuldades com cães provenientes de «produtores industriais de cães» ou de
pet shops: o conceito que fazem os cachorros sobre a aparência da raça humana
é, com frequência, muito restrito, e eles reagem de forma padronizada ao
evitar, com temor, qualquer outro animal de duas patas com que se defrontem”
Na sequência
do que John Bradshaw argumentou, atrevia-me a perguntar: será que os cães vêm
os homens e as melhores como pertencendo à mesma espécie?
Porque este é
um conceito totalmente inovador, carece de mais investigação, mas pelos sólidos
argumentos apresentados pelos investigadores, penso que merecem da nossa parte
um voto de confiança na continuação das investigações.
Apesar disso,
não deixa de ser um tema que merece, pelo menos, um acto de reflexão da nossa
parte e pensemos assim: será que não faz algum sentido as conclusões que
chegaram até agora os investigadores?
Sílvio Pereira