Translate

16/02/17

Feromonas na Terapia Comportamental. Será que funcionam?

A utilização de feromonas, mais propriamente a chamada feromona apaziguadora canina produzida próximo das glândulas mamárias das cadelas que se encontram em lactação, como coadjuvante à terapia comportamental canina, tecnicamente conhecida como feromonoterapia, já há alguns anos que está a ser aplicada no tratamento de várias doenças de comportamento que alguns cães apresentam.  

As feromonas são substâncias químicas que, segregadas por um indivíduo, têm como objectivo transmitir uma informação específica a outros indivíduos da mesma espécie provocando nestes mudanças na sua fisiologia e comportamento.

Normalmente ao falar de feromonas referimo-nos a elas como substâncias que possuem um odor característico responsáveis pelas reacções que observamos no indivíduo que capta o dito odor. Mas, as feromonas não são simplesmente odores, estas identificam-se espontaneamente durante a respiração dos animais. Portanto, para que as feromonas sejam perceptíveis é necessária a participação de um órgão especial conhecido como órgão vomeronasal, situado dentro da cavidade nasal.

Posteriormente, a informação recebida pelo órgão vomeronasal é transmitida ao sistema nervoso, mais concretamente ao sistema límbico, que gere as emoções (medo, ansiedade, prazer, etc.), desencadeando as mudanças específicas no animal.

A feromona apaziguadora canina (DAP® dog appeasing pheromone)  

As glândulas sebáceas presentes no sulco intermamário das cadelas produzem, durante o período de lactação (desde o 3º/4º dia após o parto até 2 a 5 dias depois do desmame) umas feromonas denominadas “apeasinas” (do inglês appeasiness, que significa calma ou apaziguamento) que têm uma actividade calmante e tranquilizante nos cachorros. Além disso, parece que os ajudam a orientar-se quando começam a mover-se próximo da mãe e a identificar rapidamente as partes menos perigosas do entorno que aquela seleccionou como “ninho”. Estas feromonas transmitem uma mensagem de bem-estar, calma e segurança que, segundo as últimas investigações, persistem até à idade adulta modulando o estado emocional do animal em todas as etapas da sua vida.

O DAP® é o análogo sintético da feromona natural. O produto apresenta-se em Portugal com o nome Adaptil® e é disponibilizado nas formas de coleira e difusor, similar aos ambientadores usados nas nossas casas, libertando a feromona directamente no ambiente sendo recebida automaticamente pelo animal.

Principais indicções terapêuticas do DAP®

As indicações terapêuticas para o uso desta feromona derivam dos efeitos calmantes ou tranquilizadores que possuem e incluem distintos problemas de medo excessivo em cães (especialmente fobias a foguetes e trovões), problemas de ansiedade (principalmente ansiedade por separação), assim como o alívio dos sintomas associados a situações de stress (mudanças de residência, permanência em hotéis caninos, adopção de animais, visitas ao veterinário, viagens de carro e avião, etc.).


A feromonoterapia é um coadjuvante à terapia comportamental

A utilização recente desta nova substância vem substituir, nalguns casos noutros acrescentar mais opções de tratamento das várias patologias do comportamento para as quais esta nova técnica é indicada.

Até há cerca de 10 anos, o único tipo de tratamento utilizado para baixar os níveis de medo, stress e ansiedade nos animais e com isso garantir um maior êxito na terapia comportamental, era a utilização de medicação que actua sobre o sistema nervoso central, tais como fluoxetina (prozac), clomipramina, etc., com as consequências conhecidas de todos os medicamentos que actuam sobre o SNC: habituação, dependência, etc. Actualmente, está a começar a ser introduzida a feromonoterapia como substituição da medicação tradicional com resultados bastante encorajadores e deve ser uma prática a seguir, cada vez com mais convicção, por todos os profissionais que se debatem com no seu dia-a-dia com estes problemas de comportamento.

É importante lembrar que, por si só, a feromonoterapia não irá resolver problema algum e deve ser encarada como um coadjuvante à terapia comportamental, quer dizer que, este produto, como nenhum outro, deve ser utilizado indiscriminadamente por quem não tem conhecimentos nesta área mas sim por técnicos, com conhecimentos para tal e sempre acompanhado de consequente terapia comportamental.

Futuro da feromonoterapia em cães

A experiência terapêutica com o DAP® é ainda limitada; apesar disso na opinião de alguns investigadores o efeito obtido nas distintas aplicações parece ser mais subtil que o conseguido com as feromonas felinas. Pode ser que o fracasso no tratamento de alguns casos se deva a uma necessidade de refinar as indicações tornando-as mais precisas.

Algumas experiências sugerem que certos problemas poderão, no futuro, serem susceptíveis de melhorar com o uso da feromona apaziguadora. Entre eles podemos citar algumas formas de territorialidade, problemas ligados às condutas obsessivas, conhecidos como estereotipias ou comportamentos estereotipados, situações de agressividade por medo e mesmo determinados problemas médicos nos quais o stress tem um papel fundamental, por exemplo, a epilepsia.

A tolerância do produto é muito boa, não sendo descritos efeitos secundários significativos nem nos animais em tratamento nem em pessoas que com eles convivam. Como tal, esta feromona é uma excelente alternativa, como já afirmámos anteriormente, ao uso de fármacos em cães. Em situações mais complicadas permite igualmente a utilização simultânea de medicação psicotrópica quando se ache necessário.


Para finalizar, queríamos reafirmar que devemos ter sempre presente, que deve usar-se esta terapia em combinação e não em substituição dos tratamentos de modificação de comportamento.

Por: Sílvio Pereira