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11/10/10

DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMPORTAMENTAL DOS CACHORROS

(1ª Parte)

Este é um artigo destinado, primeiro aos criadores que desconhecem que, por exemplo, as manipulações neo-natais, executadas correctamente e na altura certa, podem prevenir futuros problemas comportamentais e, depois, aos futuros donos que deverão continuar e completar a socialização dos cachorros, dentro dos parâmetros correctos e adequados às especificidades de cada animal.

Antes do desmame, a mãe assume uma parte activa no desenvolvimento físico e comportamen-tal dos cachorros, parte essa que se mostrará determinante para o equilíbrio e integração poste-rior destes no seu novo meio social.

Ao ter conhecimento das várias etapas do desenvolvimento comportamental e social dos cachorros, evitam-se um elevado número de erros ou de inconvenientes, sendo devidamente aproveitados os períodos mais favoráveis à aprendizagem ou sensíveis à aversão.

Durante as duas primeiras semanas de idade, é útil verificar o instinto materno da reprodutora (especialmente limpeza dos filhos, indispensável para os seus reflexos de micção e defecação) e vigiar o aleitamento colocando os cachorros menos vigorosos ou os mais subordinados, nas mamas que produzem leite mais rico. Por vezes é necessário controlar as unhas dos cachorros, as quais podem traumatizar as mamas e levar a uma recusa da mãe em fornecer o alimento.

Os etologistas têm por hábito dividir o período de maturação do cachorro em quatro etapas sucessivas:

• O Período pré-natal

Os fetos no útero não estão completamente isolados do meio exterior. O desenvolvimento das técnicas de ecografia permitiu observar as diversas reacções dos fetos, quando se realiza na mãe, uma palpação abdominal a partir da quarta semana de gestação. O seu sentido do tacto desenvolve-se, portanto, muito cedo e nada impede de pensar que sejam sensíveis às carícias que o criador faça à mãe durante a gestação. Da mesma forma, o stress da mãe pode aparen-temente ser sentido pelos cachorros, podendo provocar abortos, atrasos de crescimento intra-uterino, deficiências imunitárias, ou mesmo dificuldades de aprendizagem depois do nascimento. Finalmente, embora o olfacto se desenvolva apenas após o nascimento, parece que a alimentação consumida pela mãe durante a gestação, pode de alguma forma, orientar as posteriores preferências alimentares dos seus cachorros.

• O Período neo-natal

1ª e 2ª Semanas

O período neonatal tem início no nascimento e termina com a abertura das pálpebras. Foi fre-quentemente chamado fase vegetativa uma vez que, exteriormente, a vida dos cachorros parece estar dominada pelo sono e por algumas actividades reflexas. Durante esta fase, o cachorro apenas reage aos estímulos tácteis e move-se em direcção às fontes de calor, rastejando. Este tipo de movimento é possível pelo desenvolvimento do sistema nervoso central que se mieliniza na direcção anterior-posterior, permitindo desta forma, a motricidade dos membros anteriores antes da dos membros posteriores. Para além disso, se excluirmos os fenómenos reflexos, a percepção dolorosa é a última a aparecer no desenvolvimento neurológico, o que explica que as caudectomias possam ser realizadas sem anestesia, durante este período. Ainda sobre este tema, os cachorros que nascem sem cauda, geralmente só adquirem o controlo da defecação muito mais tarde, o que vem reforçar o carácter mutilador deste acto de conveniência, cada vez mais reprovado.

Durante o período neonatal, o criador deverá limitar-se a confinar a mãe e a sua ninhada numa maternidade quente e acolhedora. Se constatar uma falta de instinto materno ou se a ninhada for pouco numerosa, poderá completar os estímulos tácteis dos cachorros explorando a normalidade dos seus reflexos (reflexos de micção, de defecação, de mamar, educação gustativa). Os outros estímulos, (música, brinquedos, cores etc.) realizados por vezes no canil, são ainda inúteis nesta idade e apenas perturbam o sono da ninhada.


Manipulações Neo-natais

Quando acontece o nascimento de uma ninhada, devemos actuar de imediato para assegurar o desenvolvimento intelectual dos cachorros desde o primeiro dia.

Para isso vamos aplicar as seguintes manipulações:

MANIPULAÇÃO E OBSERVAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL (PRIMEIRA SEMANA)

1º - Observação da maturação do Sistema Nervoso Central

- Durante os primeiros 4 a 5 dias de vida, o cachorro deve apresentar dominância flexora. Para isso pegamo-lo pela base da cabeça e suspendemo-lo no ar. Ele deve responder flexionando as extremidades, a coluna e a cauda. Acariciar e acercá-lo imediatamente do nosso coração (apesar de ele ainda não ouvir). Passados 15 segundos devolvemo-lo à mãe.

2º - Para controlar as respostas motoras complexas medimos o Reflexo de Magnus. Flexione a cabeça do cachorro para um lado. O animal deve responder estendendo a as patas do lado para o qual se girou a cabeça. Acariciar, coração e mãe (igual ao ponto anterior).

3º - Controlo do reflexo de rooting (movimento exploratório com o focinho em direcção a uma fonte de calor). Colocar a mão (à temperatura normal) em forma de copo, precisamente diante da boca do cachorro. O cachorro deve tentar aproximar-se ou localizar a mão. Este reflexo começa a desaparecer aos quatro dias de vida.

Valorize e qualifique estas manipulações com os graus de: Bom, Regular e Mau

Manipulações diárias

Além das manipulações atrás mencionadas, outras devem servir para que o animal tome contac-to com o criador e a sua família. Nesta semana não é conveniente que as crianças toquem nos cachorros.

Depois de mamar devem-se pegar um a um nos cachorros, colocá-los sobre o nosso peito nu, encostados ao nosso coração. Fala-se-lhes com voz calma e de baixa intensidade. Em fundo coloca-se uma música suave (se possível sinfónica) de Mozart ou Chopin. Esta manipulação deve demorar uns 20 minutos por cachorro. É preferível que seja feita por um homem uma vez que o seu timbre e tom de voz são mais baixos. Neste momento os cachorros ainda não ouvem mas são sensíveis às vibrações ambientais.

Antes de irmos para a cama pegamos um a um nos cachorros, deitamo-nos e encostamo-los à nossa boca ao mesmo tempo que exalamos suavemente ar quente sobre a sua trufa. Acaricia-mo-los contra o pêlo e devolvemos à mãe.

Ao levantar de manhã acercamo-nos da caixa fazendo-o com o ruído normal acompanhado de um suave bater de palmas. Excepto durante as manipulações, os cachorros não devem ser importunados durante o dia. O bater de palmas também pode ser substituído por assobios.

OBJECTIVOS:

- Aumento da conduta exploratória;

- Maior desenvolvimento da capacidade de aprendizagem;

- Estimulação do sistema imunológico


MANIPULAÇÃO E OBSERVAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL (SEGUNDA SEMANA)

1. Preparação para o período de transição

Há que procurar a simultaneidade entre a estimulação ano-genital por parte da mãe com umas carícias na cabeça a favor do pêlo. Uma vez ao dia por cachorro é o suficiente.

2. Desenvolvimento da conduta exploratória

Durante esta segunda semana mantemos todas as manipulações da primeira, excepto os testes psicomotores. Ainda que, o reflexo de rooting comece a desaparecer a partir do 4º dia, devemos continuar a estimulá-lo para aumentar o gregarismo inter-específico connosco. Uma vez por cachorro. Esta manipulação faz com que o animal, ainda que só se possa arrastar sobre os quartos traseiros, siga a fonte de calor.

3. Diminuição da tendência à emocionalidade.

Ainda que o cachorro abra os condutos auditivos entre o 11º e 14º dia e não comece a reconhe-cer estímulos auditivos até ao 19º - 20º dia, é necessário que introduzamos no seu meio ambien-te estímulos de alta frequência. Para isso utiliza-se um apito de ultra-sons que será usado quan-do o animal estiver a receber outros estímulos agradáveis (alimentação, estimulação ano-genital, etc.). Esta manipulação pode-se fazer em grupo procurando que todos os cachorros estejam despertos. Nesta altura o sono tipo REM deve ser respeitado na medida do possível.
Deve-se ir aumentando a intensidade e frequência do bater de palmas, assobios e qualquer outro som “normal”.

OBJECTIVOS COMPLEMENTARES

- Diminuição da conduta de medo no futuro período sensível;

- Resposta adrenocortical mais flexível e adaptada ao factor stress;

- Aumento da velocidade de crescimento.