Translate

16/07/11

A INFLUÊNCIA DA "BELEZA" NAS RAÇAS DE TRABALHO E UTILIDADE

Terminamos este mês uma trilogia de artigos dedicados às raças de trabalho e utilidade com uma abordagem às consequências que a componente beleza têm nas referidas raças.

Beleza = “Propriedade das pessoas que nos induz a amá-las provocando em nós deleite espiritual” ou “Conjunto de qualidades cuja manifestação de sensibilidade produz um deleite espiritual ou um sentimento de admiração”.

Moda = “ Uso, modo ou costume que está em voga durante algum tempo ou num determinado país”

São definições gerais do léxico, intrinsecamente unidas, e que, no que refere à moda, estão a afectar, em maior ou menor grau as raças de trabalho.

Queremos deixar claro que fazemos referência ao criador de beleza como aquele que dá prioridade à estética na selecção e cão de beleza ao exemplar seleccionado através desta técnica já que se encontram especímenes em algumas raças que, seleccionados com os critérios ordenados por: saúde, carácter e estética, conseguem excelentes resultados em exposições de beleza.

Efectivamente são muito poucos os exemplares de beleza que oferecem um rendimento óptimo como “cães” em toda a acepção da palavra.

Desde logo, o ser humano encontra beleza noutro quando descobre qualidades que valoriza como boas e amáveis. Assim ocorre, racionalmente também, a respeito dos seres vivos. Mas, quando se admira um objecto ou coisa, estabelecer que se ama o dito objecto, não deixa de ter conotações subjectivistas. Deste modo, a maioria dos criadores que só seleccionam beleza, chegam a “adorar” a estética porque nunca estudaram a fundo o carácter do animal. Alguns juízes e responsáveis de Clubes caninos, devendo ser os garantes tanto de uma como de outra qualidade, chegam a valorizar somente determinadas linhas de beleza e os seleccionados nas exposições como sendo os mais “aptos”. Como consequência, raças tão imponentes como o Cão de Pastor Alemão tenha que ser diferenciada e compartimentada em Pastores Alemães de Trabalho e Pastores Alemães de Beleza. Para eles é endereçada a nossa humilde pergunta: Von Stephanitz criou uma raça, ou duas?

Se desvirtuarmos e não valorizarmos as provas de trabalho de origem alemã, estamos irremediavelmente a acabar com o último filtro de carácter e temperamento e, então, só ficará desta nobre raça uma foto numa antiga revista da especialidade.

Quantas vezes observamos grandes campeões de beleza que, mesmo à saída dos ringues, enfrentam possíveis situações que encaram como uma ameaça (como por exemplo, o esbracejar ou o bater do pé de algum espectador, que poderá estar junto ao ringue, com o intuito de testar em ambiente hostil um exemplar que até lhe pode interessar como reprodutor para uma fêmea sua) e, perante isso, rapidamente utilizam o mecanismo de fuga para resolver os seus problemas de medo?

Esta é uma das muitas situações explicativas do que se pode fazer com uma excelente raça quando se trata de a equiparar a outra, com o mesmo nome, que foi obtida para luzir nos ringues de beleza.

Analisemos o problema sob o ponto de vista etológico. As endogamias (criação intensiva em consanguinidade), principalmente as que estão ligadas a muitas raças, é possível que favoreçam uma elite de criadores que valorizam o factor crematístico (a área mercantilista de uma actividade) do mercado mas nunca uma espécie, mesmo que seja doméstica. A existência de alelos recessivos pode trazer como consequência, se cruzarem-se dois portadores, a fixação de um mau carácter cromossomático. Quem julga ou detecta essa tara? Podemos assegurar que essa tara não se tornará moda? Têm os criadores conhecimentos de genética para poder lidar conscientemente com estes problemas? Não tomaremos como doutrina o que realmente é uma mania de alguém não preparado mas com uma grande dose de poder fáctico?

A resposta está na natureza que dota as fêmeas, de quase todos os mamíferos, de um mecanismo de protecção do seu bem mais precioso, o óvulo. Um macho pode equivocar-se porque sobra-lhe esperma, mas uma fêmea só produz alguns óvulos nos seus ciclos estrais e, sendo assim, ela procurará os melhores pais para os seus filhos. Seleccionará caracteres de dominância e perfeição física (Robertson, 1979) ou a capacidade de sobrevivência e obtenção de recursos (Verner & Wilson, 1966).

Dado que a fêmea desta espécie não está em liberdade devemos ser nós que orientamos o seu Processo de Acasalamento tentando obter a maior variabilidade como elemento adaptativo e degrau evolutivo. A selecção do futuro semental deverá guiar-se pelos parâmetros, e por esta ordem: Saúde, Carácter e Estética, conceitos idênticos àqueles que em liberdade resumiríamos como Atitude.