Os problemas derivados da angústia por separação canina agrupam uma grande diversidade de manifestações de hipervinculação social e de lugar. A angústia por separação pode-se encontrar de maneira natural em muitas espécies de canídeos, sobretudo nas mais sociais como são o caso dos Lobos e dos cães domésticos.
Os comportamentos de ansiedade, incluindo a vocalização e a tentativa de conseguir proximidade em relação ao objecto de apego, são comportamentos adaptativos. O propósito evolutivo dos comportamentos de angústia por separação é prevenir que o cachorro se afaste para demasiado longe da unidade familiar e também para ajudar a mãe e outros membros da família a encontrá-lo. A angústia experimentada motiva o cachorro a permanecer junto do seu objecto de apego (primeiro o local de abrigo e depois a mãe). As vocalizações têm como objectivo actuar como localizador de forma que a mãe, ou outros membros da matilha, possam localizar o cachorro perdido. As vocalizações do cachorro podem provocar uma resposta de base psicológica na mãe que a leve a localizá-lo. No fundo, o propósito da angústia por separação é recalcar a importância do contacto directo e a vinculação entre o cachorro e a unidade familiar que o cria.
A ansiedade por separação não se observa em espécies de animais que não criam a sua prole. Há muitos répteis como as tartarugas marinhas, por exemplo, que não mostram comportamentos de angustia por separação. Grande parte deste sistema está presente de forma instintiva no cachorro cão e a aprendizagem adquire um efeito modulador à medida que passa o tempo. O alivio e consolo do contacto social (a mãe) e do local (abrigo) reforçam o contacto e o apego enquanto que a ausência relativa de consolo e a experiência negativa do jovem actuam para castigar o desenraizamento. Reunir o cachorro com o objecto de apego reforça os comportamentos de angústia. Quando o cachorro se afasta para demasiado longe é castigado com o isolamento. A dependência está afiançada no sistema social canino na criação dos cachorros. O período critico – ou de socialização - seguramente tem um papel fundamental no desenvolvimento de objectos de apego.
O ancestral do cão doméstico é o Lobo. Apesar dos cães serem uma espécie aparte, não há duvida de que compartilham a maioria das suas características mais enraizadas. Em ambiente selvagem, um lobito normalmente não deixa a sua toca antes das 3 ou 4 semanas de idade, nesse momento as excursões acabam com o regresso à segurança da toca. Os lobitos começam com um apego espacial (a toca) mais que social (a mãe). Nas semanas seguintes o cachorro vai amadurecendo, adquire maior confiança e familiariza-se mais com o mundo exterior. Começa a desenvolver um maior apego social com os membros da alcateia e familiariza-se cada vez mais com o mundo que rodeia a toca. Entre as 10 e as 12 semanas, os lobitos abandonam a toca de vez. Espera-se dos lobitos que, gradualmente, participem mais na vida da alcateia, também na caça dado que já ninguém lhe proporciona comida. Passam os dias ao lado das presas mortas onde comem e brincam. Logo vão a outra zona onde foi abatida outra presa. Este processo de maturação biológica e integração na alcateia é gradual e tem uma temporização perfeita. A ansiedade por separação raramente se converte num problema ou transtorno nestas condições.
O que ocorre com os cachorros é um pouco diferente. Quando estão na ninhada é possível que os criadores manipulem a proximidade dos cachorros à mãe. Parecendo que não, este procedimento pode ter resultados nocivos. Muitas vezes retira-se os cachorros da ninhada antes que estejam preparados, do ponto de vista biológico e psicológico. Nesta situação, a transição é brusca e traumática totalmente contrária ao pretendido que seria uma alteração gradual e sem problemas. Os novos donos, em muitos casos, enjaulam o cachorro num local separado da casa (canil, por ex.). Durante os dias seguintes o cachorro sente-se traumatizado por lhe ser estranho o local e o meio social. A isto muitas vezes junta-se o isolamento intolerável dos novos “objectos sociais” (a família). Os donos saiem para os empregos ou vão para a escola e querem que o cão fique sossegado longe do olhar da família. O isolamento provoca ansiedade, naturalmente, e o cachorro vocaliza constantemente para que o objecto de apego se reúna a ele. Isto não ocorre e o cachorro começa a sentir que não pode controlar o seu próprio meio envolvente: estamos a criar um animal neurótico. O cão sente-se desesperado.
Há muitos donos que não percebem o sofrimento do pobre cachorro, sentem-se frustrados e castigam-no por ladrar ou uivar. Gritar, ou o que é pior, bater no cão agrava o problema ao fazer com que o cachorro se sinta mais perdido e com maior necessidade de apego social. O apego social do cão pode reforçar-se (às vezes a níveis nada saudáveis) com este tipo de tratamento porque procura consolo no contacto social. Esta situação aumenta a incidência, duração e intensidade da angustia e tem como resultado vocalizações de ansiedade.
Se o cachorro não tem uma predisposição genética para a ansiedade por separação (sensibilidade/reactividade), e o dano não é muito grave, então pode aprender a adaptar-se a esse meio ambiente. Em situações novas é onde os cachorros se mostram mais ansiosos, tal como acontecem com as suas vocalizações às seis semanas de idade. A partir deste pico as vocalizações começam a baixar em circunstâncias normais, e entre as 12 e as 16 semanas os cachorros apresentam uma adaptação cada vez maior ao seu meio e menos ansiedade perante o isolamento.
Este é um processo adaptativo normal. Com uma predisposição genética ou práticas de criação inadequadas a angústia pode transformar-se em ansiedade, frustração e pânico, situação que marca o declive do estado psicológico do cão e da relação entre este e o seu dono.