Translate

11/08/10

INGESTÃO INADEQUADA - Alimentação Estranha – Coprogafia – Objectos

Por ser sempre um tema que causa grande angústia aos donos, a Ingestão Inadequada deve ser tratada com a devida cautela e com o rigor que, como todos os temas em que pode estar a vida do animal em causa, deve ser abordado. Como em todas as patologias, comportamentais ou fisiologias, a prevenção é sempre o melhor meio para serem combatidas. Sendo assim, decidi escrever este artigo, não só para ajudar todos os donos a prevenirem-se contra este pesadelo, mas também ajudar aqueles que, já estando confrontados com ele, o possam tratar da melhor forma possível, dispondo de todos os mecanismos existentes neste momento para o combater. De qualquer maneira, é sempre importante o acompanhamento de um profissional com conhecimentos nesta área.

Alimentação Estranha

Um cão deve saber recusar sempre a comida que não lhe tenha sido oferecida pelo dono ou pelos familiares que com ele convivem. Este hábito pode salvar-lhe a vida.

Por razões evidentes, ensinar a recusar a comida é um dos pontos essenciais no adestramento dos cães, principalmente de cães que também são utilizados como guarda, já que, infelizmente, cada vez e com mais frequência é utilizada a bola de carne envenenada por ladrões, intrusos ou até, por vizinhos moralmente mal formados desejosos de se livrarem de um animal ruidoso ou de que não gostam.

Regras Básicas

Para se conseguir obter um bom resultado é necessário respeitar escrupulosamente certas regras, mesmo antes de ensinar um cão a recusar alimento oferecido por um estranho:

- O cão deve estar bem alimentado com uma comida de qualidade que lhe proporcione todos os nutrientes necessários.
- Nunca se deve dar comida ao cão fora das horas de refeições.
- Não lhe dar comida quando se está sentado à mesa. Se o cão perder o hábito de mendigar comida, deixará comer tranquilamente os donos e permanecerá no seu lugar.
- Não deixar os amigos ou convidados oferecer guloseimas ao cão. Os Veterinários têm por hábito oferecer aos cães, que estão em consulta, guloseimas para lhes conquistar a confiança. Esse procedimento não deve ser permitido pelo dono.
- Dar de comer ao cão sempre no mesmo comedouro, à mesma hora e no mesmo local.
- Não dar de comer com a mão.
- Não o deixar ingerir comida abandonada durante os passeios (o cão ao passear deve andar com a cabeça levantada e não a farejar permanentemente o solo).

Apenas quando o cão e o dono tiverem adquirido estes hábitos se pode iniciar o treino para que o cão recuse comida que um estranho lhe ofereça.

O Início

Deve iniciar-se o treino por volta dos dez, doze meses, quando o animal já estiver habituado ao seu horário de refeições e aprendeu as regras elementares de obediência, pelo que já responde correctamente, às ordens de sentado, deitado, quieto, larga e vem à chamada. Existem vários métodos de treino mas todos têm uma regra comum: nunca abandonar um cão perante um fracasso. O objectivo é que o cão desconfie perante qualquer guloseima ou alimento que encontre casualmente ou lhe seja oferecido por alguém que não sejam os donos.

O Treino

Para o treino deste problema comportamental somos forçados a utilizar o Castigo Positivo uma vez que pode estar em causa a vida do animal.

É necessária uma pessoa desconhecida do cão. Será encarregue de dar ou lançar alimentos que devem surpreender desagradavelmente o animal: pedaços com pimenta, com mostarda forte, com malaguetas, com óleo de rícino; alimentos que estejam unidos à ponta de um elástico que lhe baterá no focinho ao morder e puxar

Para dissuadir o cão de comer alimento abandonado no solo, existem vários métodos: colocar comida sobre um ratoeira dissimulada com ervas ou terra, unir a bola de carne a latas de refrigerante que cairão sobre o cão ao puxar a comida com os dentes, etc.

Não obstante, não há cães infalíveis, pelo que há que ter em conta que se durante os seus passeios um cão encontra habitualmente o mesmo tipo de comida, pode acostumar-se a ela e esquecer os efeitos nocivos que o comê-la lhe poderiam provocar. Por isso, voltamos a lembrar, que é importante acostumar o cão a não ingerir nada que não lhe tenha sido dado pelo dono, sendo assim, também não é superficial insistir que o cão não coma fora do sítio ou das suas horas habituais, dando-lhe sempre uma ração suficiente e alta qualidade, se bem que não excessiva, de maneira a que evite a obesidade e não passe fome o resto do dia.

Podemos igualmente utilizar um processo mais soft, que consiste em pedirmos a uma pessoa desconhecida para o cão que atire um pedaço de alimento apetitoso enquanto andamos a passear o cão à trela, primeiro fora e depois dentro do quintal, e na altura em que o cão vai para o comer, devemos dar um puxão forte na trela e repreender o cão com um “NÃO” forte e depois, quando já se tiver desligado do estímulo, recompensá-lo com uma carícia e um suave “MUITO BEM”. Pode-se também utilizar este método quando o passeamos na rua e ele fica tentado a comer algo que encontrou no chão junto a um caixote do lixo.

Qualquer que seja o método, é conveniente praticar o treino em diversos locais, como a casa, o jardim, a rua ou o carro, e em diferentes situações e com alimentos diversos.

A recusa de comida constitui em alguns países uma prova que se pratica em concursos de trabalho. Para isso, colocam-se diferentes tipos de comida nos lugares que o juiz determinar, sendo sempre suficientemente grandes para serem claramente visíveis e apetitosas, tais como: carne crua ou guisada, ossos, peixe, queijo, bolos, açúcar, etc., o cão deve efectuar o seu percurso sem comer nem lamber nenhuma das comidas.
Em seguida, o cão deve permanecer quieto e recusar pedaços de comida atirados de uma distância de 3 metros sem estar presente o proprietário. Concluída a prova, o cão é chamado pelo nome e deve correr para o lado do seu guia. Durante toda a prova, o cão não pode demonstrar medo ou agressividade.

• Coprofagia

A coprofagia é um comportamento anómalo que se traduz no acto de os cães ingerirem as suas próprias fezes ou as de outros animais.

Este comportamento só é normal em mães em fase de amamentação que ingerem as fezes e urina dos seus cachorros com o objectivo de limpar o ninho e de evitar a propagação de odores a fim de não atraírem os predadores. Em todas as outras situações este é um comportamento anormal mas não patológico.

Causas

As causas deste comportamento podem ser várias, sendo que, os próprios investigadores não são unânimes nas suas conclusões. De seguida descrevemos as teorias definidas pelos referidos investigadores

- Enfermidades tais: como parasítoses, intoxicação por chumbo, insuficiência pancreática e qualquer processo que afecte a amígdala que é a estrutura do SNC (Sistema Nervoso Central) encarregue da selecção de alimento. Como exemplo deste último temos o vírus da raiva, que por vezes se aloja neste órgão.

- Carência de elementos nutritivos como o ferro, vitamina B ou zinco

- Conduta reforçada pelo dono. O cão fá-lo para chamar a atenção do dono ou para evitar ser castigado se este vê as fezes.

- Pode igualmente dever-se ao ambiente vivido pelos cachorros durante a amamentação. Isto implicaria que o cachorro fixa comportamentos como o de estar em ambiente sujo da caixa parideira e comendo no mesmo local, como tal associa as fezes à ingestão de alimentos. Por vezes também as poderá associar a condutas exploratórias e lúdicas mordendo-as e jogando com elas. Também se tem especulado com a ideia de que associe o hálito da mãe que ingere as fezes, com o odor da comida.

- Situações de deficiência nutricional, má nutrição ou fome. É suposto que em condições em que o cachorro esteja mal alimentado ou com fome ingira as suas fezes para sobreviver. Assim como uma dieta desequilibrada ou de baixa qualidade poderia influir numa conduta de ingestão das próprias fezes ou de outros.

- Como meio de aproveitar enzimas digestivas presentes nas fezes como é o caso do ácido deoxicólico que diminui o risco de enterites e facilita a assimilação dos ácidos gordos.

- Resposta a situações de stress devidas a confinamento a espaços reduzidos com total ausência de estímulos, e a consequente restrição de movimentos e de interacção social.

Tratamento

Em primeiro lugar deve de se fazer um check-up total ao cão para despistar eventuais problemas orgânicos que possam existir.

No caso das funções orgânicas se encontrarem em perfeitas condições e que tenha sido descartado também a possível causa de uma alimentação deficitária ou de baixa qualidade, centrar-nos-emos nas outras possíveis causas deste comportamento.

Ao animal deve ser proporcionado um ambiente rico em jogos interactivos, uma rotina fixa que inclua saídas ao exterior para fazer as suas necessidades e adestramento em obediência com enfoque no comando “larga”.

Como é lógico o ambiente do cão deve ser o mais higiénico possível eliminando as fezes rapidamente. Se temos vários cães seria útil utilizarmos uma câmara de vídeo para podermos averiguar o causador ou responsável por esta conduta.

Para eliminar este comportamento utiliza-se o fenómeno da aversão alimentar que consiste no seguinte: cobre-se as fezes com uma substância desagradável para o animal, quer seja pelo odor ou pelo sabor e que provoque vómitos ou dores abdominais. As consequências gastrointestinais subsequentes sofridas pelo cão devido à ingestão das fezes cobertas por esses produtos, farão com que o animal condicione que sofrerá consequências se as ingerir e não queira provar de novo.

Conclusão

O tema é muito polémico mesmo entre os estudiosos da matéria. Não há receitas milagrosas o que deve haver é um cuidado emergente em proporcionar ao cão o máximo de estímulos positivos e que viva num meio o mais higiénico possível.

• Objectos

Pedras, bolas, meias de senhora, peúgas, pedaços de sapato, trapos, brinquedos, objectos em plástico, etc., são objectos que poderão ser engolidos por um animal com graves consequências para a sua saúde se não forem rapidamente retirados, muitas das vezes cirurgicamente. Para evitar este grave problema, é uma boa prática treinar o cão a reconhecer e evitar engolir esses objectos.

Treino

Devido à sua gravidade, vamos utilizar novamente o Castigo Positivo como método de adestramento e, basicamente, o treino é idêntico ao segundo processo de treino de rejeição de alimentação estranha. Assim, vamos proceder da seguinte forma:

Dispomos pelo chão uma série de objectos que sabemos que o cão gosta mas que não deve engolir. Colocamos-lhe a trela e propositadamente aproximamo-nos dos objectos e, na altura em que o cão vai para os cheirar, devemos dar um puxão forte na trela e repreender o cão com um “NÃO” forte e depois, quando já se tiver desligado do estímulo, recompensá-lo com uma carícia e um suave “MUITO BEM”. Pode-se também utilizar este método quando o passeamos na rua e ele fica tentado a engolir algo que encontrou no chão.

Como todos os treinos, este só é eficaz quando repetido muitas vezes até o cão ter a percepção de que nem tudo serve para comer.

Conclusões

A ingestão inadequada de alimentos, fezes ou objectos é uma patologia comportamental grave, mas com uma taxa de sucesso no seu tratamento bastante alta. Cabe ao terapeuta e fundamentalmente ao dono, adoptarem os procedimentos correctos e, não desanimarem perante algum fracasso que possa aparecer durante o processo de resolução do problema, uma vez que na grande maioria dos casos está em jogo a própria vida do animal.