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28/11/24

Porque é que os Cães colocam a cauda entre as patas

 




A linguagem corporal é uma das formas mais eficazes que os cães utilizam para expressar as suas emoções e intenções. Entre os muitos sinais que os cães exibem, um dos mais conhecidos é o acto de colocar a cauda entre as patas traseiras, especialmente em situações de medo ou desconforto. Este comportamento não é apenas uma reação instintiva; ele carrega igualmente significados profundos relacionados à biologia, à psicologia e à evolução da espécie. Neste artigo, exploraremos as várias razões que explicam esse gesto, o seu contexto histórico e como podemos interpretar e responder-lhe adequadamente.

1.    A Origem Instintiva: Proteção Física

Um dos motivos primários para que os cães coloquem a cauda entre as patas é a proteção física das áreas vulneráveis do seu corpo. A cauda, quando está baixa, serve como um escudo para as partes sensíveis, como os órgãos genitais e o abdómen, áreas críticas que, se feridas, poderiam comprometer a sobrevivência do animal. Este comportamento defensivo remonta aos ancestrais selvagens dos cães, os lobos, que em situações de desconfronto ou submissão instintivamente protegiam as partes mais suscetíveis dos seus corpos.

Em ambientes naturais, expor áreas vulneráveis poderia atrair ataques de predadores ou adversários. Portanto, ao adotar essa postura, o cão reduz os riscos de ferimentos fatais. Esse instinto persiste até hoje nos cães domésticos, mesmo que não enfrentem as mesmas ameaças dos seus ancestrais.

2.    Comunicação Olfativa: Um Gesto de Ocultação

Os cães têm glândulas anais localizadas na base da cauda que liberam feromonas, sinais químicos únicos que carregam informações sobre identidade, estado emocional e status social. Quando um cão coloca a cauda entre as patas, restringe a libertação desses odores. Isso é especialmente relevante em situações de medo ou submissão, pois o cão está, simbolicamente, "a esconder a sua identidade".

Este comportamento também pode ser interpretado como uma tentativa de evitar conflitos. Em situações de tensão social, como interações com cães dominantes ou desconhecidos, ocultar os sinais olfativos pode ser uma estratégia para evitar atrair atenção indesejada ou demonstrar apaziguamento.

3.    A Cauda Como Indicador de Emoções

A posição e o movimento da cauda de um cão são reflexos claros das suas emoções. Uma cauda erguida geralmente indica confiança, entusiasmo ou até mesmo dominância. Por outro lado, uma cauda baixa ou entre as patas é um sinal inequívoco de medo, submissão ou desconforto. Esse gesto frequentemente é acompanhado por outros sinais corporais, como orelhas baixas e coladas ao crâneo, postura encolhida, tremores ou desvio do olhar.

Esse comportamento é uma parte fundamental da linguagem canina, permitindo que os cães comuniquem as suas intenções para outros cães, animais ou humanos. Em contextos sociais, colocar a cauda entre as patas é uma forma de dizer: "Não sou uma ameaça, quero evitar conflitos."

4.    Herança Evolutiva: A Postura Submissa

A origem deste gesto está profundamente enraizada na história evolutiva dos cães. Nos grupos sociais dos lobos, posturas submissas eram cruciais para a harmonia do grupo. Lobos subordinados utilizavam gestos, como baixar a cauda, para reconhecer a autoridade de indivíduos dominantes e evitar confrontos. Este comportamento foi herdado pelos cães domésticos, que mantiveram muitas dessas estratégias de comunicação social para interagir tanto com outros cães como com humanos.

No mundo moderno, os cães utilizam essa mesma postura numa variedade de situações, desde encontros com outros cães mais dominantes até interações com estranhos ou ambientes desconhecidos que provocam ansiedade.

5.    Impacto Psicológico: O Medo e o Stresse

Colocar a cauda entre as patas é também uma resposta emocional. Situações stressantes, como trovões, fogos de artifício, ambientes desconhecidos ou mesmo uma repreensão, podem desencadear essa reacção. O comportamento reflete o estado emocional do cão, indicando que ele se sente inseguro ou sobrecarregado.

Em contextos extremos, como abuso ou trauma, os cães podem adotar esta postura de forma crónica, demonstrando um estado constante de medo ou submissão. Isso ressalta a importância de entender e abordar as causas do stresse de forma empática e proativa.

6.    Como Interpretar e Responder a Este Comportamento?

Quando um cão coloca a cauda entre as patas, está a tentar comunicar algo importante. Ignorar ou forçar o animal a permanecer numa situação que o assusta pode agravar o problema. Aqui estão algumas maneiras de responder a esse comportamento:

a)    Identifique a Fonte do Medo

Observar o ambiente e identificar o que está no momento a causar desconforto é o primeiro passo. Pode ser algo óbvio, como um barulho alto, ou algo menos evidente, como um cheiro estranho ou a presença de outro animal.

b)   Ofereça Segurança

Use uma voz tranquila e um tom reconfortante para transmitir calma. Criar um espaço seguro, como uma área reservada na casa, pode ajudar o cão a relaxar.

c)    Evite Forçar o Enfrentamento

Não obrigue o cão a enfrentar a situação que o está a assustar. Isso pode reforçar associações negativas e aumentar o medo.

d)   Reforce o Comportamento Correcto

Quando o cão começar a sentir-se mais confortável, recompense-o com biscoitos, carinhos ou palavras de encorajamento. Isso ajuda a criar associações positivas e a construir confiança.

e)    Procure Ajuda Profissional

Se o comportamento for recorrente ou severo, consultar um comportamentalista é essencial. Ansiedade crónica pode exigir intervenções mais específicas.

7.    Conclusão

O ato de colocar a cauda entre as patas é uma resposta instintiva, emocional e social profundamente enraizada nos cães. Este comportamento combina proteção física, comunicação olfativa e expressão emocional, que reflecte a complexidade das interações caninas. Para os tutores, entender e respeitar essa linguagem é essencial para criar um ambiente de confiança e segurança para o animal.

A linguagem corporal dos cães é uma janela para as suas emoções e necessidades. Aprender a interpretar esses sinais não apenas fortalece a ligação entre humanos e cães, mas também garante o bem-estar físico e psíquico dos nossos companheiros de quatro patas.

 

Sílvio Pereira


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