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13/03/11

O ADESTRADOR E A SUA FORMAÇÃO

Se entendermos o conceito de adestramento como “o processo utilizado para a canalização das qualidades do cão em direcção a um objectivo”, podemos definir o adestrador como sendo o “director do processo”.
É evidente que a qualidade do adestrador depende de uma série de factores, inter-relacionados entre si, como a formação, inteligência, capacidade física, sensibilidade com o animal e dedicação. Sobretudo, dos objectivos para o qual se proponha e se tem capacidade para os atingir.
Aquele que se limita a formar cães numa única disciplina poderá chegar a ser especialista nessa área mas, as suas qualidades pessoais não estarão à altura das exigências que derivam de objectivos mais complexos, onde entram em jogo factores de superior precisão, funcionalidade ou execução.
O Profissional de Adestramento deve cultivar uma virtude sem a qual, jamais chegará a ser considerado como tal. Referimo-nos à “humildade”. Ela leva-nos a sentirmo-nos continuamente aprendizes pois, devido a ela, temos a consciência que todos os dias são-nos colocadas questões novas para o qual necessitamos de respostas também inovadoras. Não deveremos ter problemas em pedir ajuda a quem sabe mais numa dada área, procurar as referidas respostas onde elas possam estar, livros, artigos, seminários, workshops, etc. Não podemos esquecer que no trabalho com cães há poucas regras fixas e, quase tudo depende da formação que possamos adquirir numa escola, em cursos, trabalhando com os formadores e em grupos de trabalho. Esta humildade deve-nos inibir da pressa que temos em sermos “experts”, fechando assim as portas à aprendizagem.
Como em todas as profissões, existe nesta uma deontologia que nos aconselha a ser humildes e encarrega-se de nos afastar dos seus “pecados capitais”. A vaidade, o desrespeito pelos outros e a deficiente capacidade para reconhecer as lacunas no conhecimento que se tem do mundo canino, diferenciam o autêntico especialista, respeitado, com provas dadas e sempre disposto a adaptar-se e a evoluir, do mau profissional que pensa que já sabe tudo e não necessita de se reciclar.
O profissional com falta de ética e de humildade jamais está aberto às inovações científicas que têm aparecido com regularidade na área da aprendizagem canina. Este tipo de profissional não toma por verdadeira a frase: “quanto mais estudo, mais consciente estou do que me falta aprender”.

Vejamos agora os canais de aprendizagem que os adestradores dispõem até que possam ser considerados como tal.
Há alguns anos os conhecimentos que possuía um profissional baseavam-se, quase exclusivamente, na sua própria experiência. O seu método era o da tentativa e erro e, se tivesse sorte, partilhava o trabalho e experiências com outro colega. Se juntarmos a isso a baixa estima social que, no nosso país, despertava o canicultor, não é difícil imaginar que, para ter um certo domínio sobre a profissão, o adestrador tivesse que sacrificar a família e a sua vida social.
Apesar de a pré-história do adestramento ainda não estar muito distante, em Portugal começa a ter-se acesso a um ensino sério e regrado, se bem que, dependendo do Centro de Formação, podem-se alcançar vários níveis.
Como é lógico, neste artigo pretendemos “informar” portanto, explicaremos os prós e contras dos canais de aprendizagem mais usuais:

1. O autodidacta


Infelizmente, este meio de aprendizagem, que é ainda o que mais predomina nos nossos adestradores profissionais, tem frutificado nesses pseudo-adestradores à custa de estropiar cães e arruinar as suas vidas e tenham igualmente feito escola como base do adestramento. Na grande maioria dos casos não passam de medíocres profissionais acompanhados de numerosas limitações.

2. O “treinador”

O canal de aprendizagem utilizado por estes profissionais que se intitulam como “treinadores de cães” tem, na sua grande maioria, origem nas companhias cinotécnicas das forças de segurança. Estes elementos possuem formação específica nas áreas da defesa civil, ou em busca e salvamento, ou na detecção de drogas e armas e operam com cães “formatados”, praticamente desde a nascença, para executarem essas actividades. Não completando esses conhecimentos com outros de índole mais geral canalizados para a actividade de companhia, que é para aquilo que os “nossos” cães estão vocacionados, dificilmente conseguirão atingir um nível elevado de capacidades no adestramento básico e social de um cão normal.

3. Os grupos de trabalho

Importado da Alemanha, a sua estrutura social é a de um grupo de adeptos que se reúnem não só para trabalharem o cão, mas para fazer vida social com aqueles que tem a mesma paixão. São normalmente organizados por Clubes de Raça e, habitualmente, não existe monitor com formação, sendo alguém experiente no grupo que, por amizade, ensina os outros. Devido à paixão e entrega, os resultados são frequentemente bons limitando-se os objectivos a provas de obediência e sociabilidade.
Transposto para o nosso País, este modelo quase nunca deu frutos como na origem. A nossa idiossincrasia de povo Latino se encarregou de arranjar desculpas para a nossa falta de interesse e motivação em frequentar esses grupos. Por vários motivos, mas o principal é o facto de no inverno ter que se trabalhar debaixo de todo o tipo de intempéries.
De qualquer forma, os grupos de trabalho e, na maioria dos casos, são bons locais para obter um o certo nível de formação, principalmente a aprendizagem de trabalho em equipa.

4. Escolas de Formação

É uma realidade nova em Portugal mas, do que conhecemos noutros países, possuem uma inquestionável qualidade e sem comparação com todos os outros canais de aprendizagem.

A amplitude de conhecimentos multidisciplinares, ministrados em módulos teóricos e práticos, conferem aos frequentadores uma bagagem de conhecimentos que lhes permite atingir qualquer objectivo que se proponham no âmbito do adestramento canino. Pode servir como exemplo, uma vez que é aquele que conhecemos melhor, o Centro Canino de Vale de Lobos que, através do seu Departamento de Formação, ministra Cursos de Formação de Monitores em Adestramento Científico Canino, tanto nos seus formatos normal como intensivo que, como o nome indica, utiliza os mais modernos avanços científicos na aprendizagem animal na persecução dos seus objectivos que é o de formar profissionais em três componentes: técnica, teórica e prática.
Também está muito em voga no nosso país a disponibilização de Cursos de uma semana onde se aproveita para abordar toda a área do adestramento, comportamento, primeiros socorros e as várias disciplinas do desporto canino.
Tem-se igualmente vindo a massificar os seminários de fim-de-semana e os workshops de um dia mas, nestes casos, são dedicados a um tema específico.

Com este artigo quis elucidar todos os proprietários de cães do que é e do estado desta nobre e dignificante actividade profissional. Cabe aos interessados informarem-se, visitarem várias escolas, compararem os métodos de adestramento, analisarem os monitores, inquirirem, se for caso disso, junto destes se possuem algum certificado passado por alguma escola de formação, etc., e depois, na posse de todos estes elementos, decidirem o que é melhor para o seu amigo de quatro patas.

1 comentário:

Line disse...

Olá Sílvio,

Não sei como é aí em Portugal, mas aqui no Brasil a profissão de adestrador não é regulamentada. Isso contribui muito para o surgimento de pseudo-adestradores, pois é só o indivíduo ler meia dúzia de livros, ver uns vídeos na internet para se considerar apto a adestrar e cobrar por isso, sem nenhum critério.

Muito bom o blog.
Espero poder fazer um curso de adestramento em Portugal em breve.

Abraços,
Aline