Só existe comunicação quando, intencionalmente, o envio de sinais por um individuo (A) afecta o comportamento de outro (B). Assim, podemos definir comunicação como sendo o processo pelo qual os emissores utilizam sinais especialmente concebidos para modificar o comportamento dos receptores.
A comunicação é efectuada através da emissão de sinais e está muito condicionada pelo meio ambiente. Assim, vemos que não comunicam entre si de igual modo os mamíferos e as aves. Os primeiros fazem-no fundamentalmente através dos sons e olfacto e as segundas utilizam os sons e a visão.
O habitat também condiciona a comunicação em relação às possibilidades de alteração de vocalizações, de passar obstáculos, de localização e de custos energéticos de produção. Afecta também a quantidade e a qualidade de sinais que cada espécie pode produzir.
A Comunicação Canina
Linguagem Canina e a Neotenia
Podemos definir o conceito de neotenia como sendo a manutenção de caracteres juvenis, na sua forma selvagem, durante o período adulto dos indivíduos na forma doméstica. Assim, os antigos sinais do lobo domesticado evoluíram noutros, utilizados pelo cão, que fazem com que este se assemelhe a um exemplar adolescente na sua forma selvagem. O cão deixa de uivar, como forma natural de comunicação, e utiliza mais o ladrido próprio dos cachorros de lobo.
A neotenia não só afecta a comunicação como também o seu comportamento sendo estes, fenómenos resultantes da domesticação.
A Linguagem do Cão
Os cães, como todos os canídeos, comunicam entre si através de três grandes grupos de sinais: as vocalizações, as expressões faciais e corporais, e as olfactivas. Noutro grupo mais pequeno: o táctil.
Dentro do primeiro grupo distinguimos as mais comuns: o ladrido, o latido e o grunhido (rosnar). Os cães ladram durante toda a sua vida parecendo lobos que nunca alcançaram a maturidade. O grunhido é comum a todos os canídeos e pode ser considerado como um sinal de baixa intensidade ou como a primeira fase de um conjunto complexo de sinais.
Os ladridos podem ser classificados pelo seu tom em:
- Roucos ou baixos
- Normais ou médios
- Agudos ou altos
Pela sua intensidade:
- Alta
- Baixa
- Média
Pelo seu timbre:
- Secos
- Prolongados
- Uivos
Assim, um ladrido pode ser rouco, alto e seco para mostrar, neste caso, a decisão de lutar ou defender-se. Os latidos e grunhidos podem ser enquadrados entre os ladridos já que pertencem ao mesmo grupo de comunicação fónica de tal forma que, um grunhido rouco, profundo e longo, pode ser o aviso de uma possível defesa, sobretudo se vai acompanhado da mostra dos dentes e/ou o eriçamento do pêlo dorsal e garupa. Os latidos podem ser utilizados com uma função social e como expressões de dor ou alegria. Estas são as expressões que menos evoluíram dentro das vocalizações. Assim, uns latidos acompanhados de movimentos horizontais da cauda indicam sempre alegria ou vontade de brincar.
MAPA DE CORRESPONDÊNCIA ENTRE
Comportamento | Vocalização correspondente |
Aqui passa-se algo! | Ladridos de tom médio, encadeados e secos. O cão utiliza-o quando quer advertir possível perigo não eminente mas real. Pode-se ser o aviso de uma invasão de território. |
Estou aborrecido! | 4 ou 5 ladridos de tom médio encadeados com pausas de 3 ou 4 segundos de intervalo, secos e de intensidade baixa. Podem ser utilizados para chamar outro congénere que esteja longe. São produzidos mais entre os espécimes subordinados e podem afectar a paciência do dono e dos seus vizinhos. |
Olá chefe! | Ladridos agudos, secos, de alta intensidade em cadeias de 1 ou 2. São acompanhadas de movimentos horizontais da cauda. Parecem “disparos” lançados à cara dos dominantes. |
Dá-me água! | Um único ladrido agudo, seco e de intensidade alta. É acompanhado de um olhar prévio à cara do líder e um segundo em direcção ao objecto ou recurso que o animal deseja. A cauda está sempre em movimento enquanto se produz esta comunicação. |
Vamos brincar! | É o mesmo tipo de ladrido do anterior mas encadeado. O cão pode agachar os quartos dianteiros e levantar os traseiros. O olhar fixa-se no indivíduo que está a convidar. |
Deixa-me em paz! | Grunhido de tom normal, de baixa intensidade e prolongado. O olhar para o receptor faz-se de soslaio e pode ser acompanhado de uma incipiente mostra de dentes. É o aviso de um dominante a um subordinado o cachorro chato. |
Vem aqui, cachorro! | Ladrido de tom alto, intensidade alta e seco. É emitido só, quer dizer, um só, olhando na direcção do receptor. |
Estou assustado mas sou capaz de te atacar! | Grunhido que se mantém até se converter em ladrido de defesa. |
Não estou bem neste território!... Quero ir com os meus! | Começa com um ladrido de aborrecimento, até se converter num uivo suave e prolongado. É muito normal em raças nórdicas e inclusivamente nos pastores belgas. Atribui-se à falta de neotenia. Muitos donos ensinam ao seu cão a arte de “cantar”, através dos uivos. Nestes casos, que já não são espontâneos, o uivo é uma comunicação social ou actividade lúdica do cão. No lobo o uivo é utilizado para comunicar a longas distâncias e convocar uma reunião da alcateia. |
Não gosto de fazer isso! | Gemido suave, prolongado de baixa intensidade que soa como “Piii...Piii”. Os donos de Pastores Alemães, Dobermanns, Pastores Belgas e de outras raças de trabalho, sofrem quando o cão está fazendo algo que lhe tenhamos ordenado e ele quer fazer outra coisa. É uma autentica comunicação de protesto. |
Invasão real de território! | Ladrido de defesa, encadeado e com a cabeça voltada para o perigo. Pode ser acompanhado de eriçamento dos pelos dorsais, orelhas erectas e boca cerrada (no intervalo dos ladridos). |
Estou Stressado! | Arquejar contínuo que pode ser acompanhado de “Piii...Piii”. É sempre acompanhado de uma expressão facial: o estiramento para trás dos lábios (parece que se estão a rir). Quando começa a relaxar o arquejar, acaba-se o “Piii...Piii”, os lábios voltam ao normal e podemos concluir que o cão está a libertar-se do stress. |
Acabou-se, estou definitivamente relaxado. | Grunhido passando a ronco de baixa intensidade e longo. O cão deita-se no solo. |
Estas são, na generalidade, as vocalizações mais frequentes, apesar de existirem variações individuais em função do cão. Se a elas juntarmos as expressões corporais e faciais (que iremos abordar no próximo artigo), podemos observar a quantidade de combinações que há que decifrar no dicionário canino. É tudo uma questão de paciência e de aceitar os frequentes equívocos, mas garantimos que, a curto prazo, a comunicação com o cão será mais fluida.
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