Translate

02/10/08

"Imprinting" e Socialização

“Imprinting”

Conceito lançado pela primeira vez pelo naturalista Austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) Prémio Nobel da Medicina em 1973 e considerado o pai da Etologia Moderna. Ele demonstrou que, no trabalho que realizou com gansos, estes seguiriam o primeiro objecto em movimento que encontrassem no seu meio ambiente, mal saíssem dos ovos, ocorrendo assim uma ligação social entre o pequeno ser e o objecto ou organismo que eles vissem em primeiro lugar. Foi o caso da experiência realizada pelo próprio Konrad Lorenz que ao criar uma ninhada de gansos cinzentos desde a oclusão dos ovos, os pequenos gansos o tomaram como sua mãe, seguindo-o incondicionalmente e, mesmo depois de se tornarem adultos, manifestaram sempre maior preferência por ele do que pelos outros gansos.
O comportamento de um animal, de qualquer animal, é o resultado da interacção de dois factores fundamentais: a genética e o meio ambiente, e em muitos casos é quase impossível separar o aspecto filogenético[1] do ambiental. Um dos exemplos mais curiosos dessas influências no referido comportamento animal é o chamado “imprinting” (estampagem ou impregnação em português, apesar do termo, em si ser intraduzível).

O imprinting é a primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie, enquanto estabelece relações com os de outra.

Em todas as espécies existe um período, denominado período crítico, durante o qual o factor ambiental é mais susceptível de influenciar o comportamento e é nesse espaço de tempo da vida do animal que a acção do imprinting resulta particularmente intensa e duradoura, tendo grande importância no desenvolvimento dos padrões ontogenéticos[2] ou vitais.
O período crítico não é o mesmo em todas as espécies. Nas aves, por exemplo, por pertencerem a espécies precociais[3], o referido período emerge logo nas primeiras horas depois do nascimento, nos canídeos esse espaço de tempo inicia-se à terceira semana de vida, quando os cachorros começam a abrir os olhos, e a ouvir.
É importante que, nesta fase, a mãe esteja presente na altura do desenvolvimento sensorial dos cachorros, pois será ela o primeiro elemento que eles verão e será nela que se fixarão como pertencentes a uma determinada espécie.
Para a mãe também é extremamente importante esta fase, pois o desenvolvimento do comportamento maternal da fêmea está caracterizado pela aparição de um período sensível em que ela aprende a reconhecer as suas próprias crias assegurando, desta forma, que o instinto maternal se mantenha durante a época de amamentação.

Socialização


Nos canídeos o período de socialização está compreendido entre as 5 e as 12 semanas. Podemos definir esse período como o espaço de tempo compreendido entre o início da maturidade sensorial e a consolidação das estruturas nervosas que controlam a resposta de medo perante situações novas. É ainda durante este espaço de tempo que se dá o desenvolvimento sensorial e locomotor do animal e, graças a ele, o cachorro aprende a deslocar-se, explorar o seu meio envolvente e a interagir com os demais. Às 12 semanas acaba este período com a primeira demonstração de medo como resposta a alguns estímulos novos.
Em determinadas espécies, como os canídeos parece que se produz uma aceitação implícita do humano como companheiro social em pé de igualdade com os membros da sua própria espécie. Uma exposição breve durante o período sensível ou de socialização, é suficiente para que se estabeleça uma relação normal com os seres humanos. É nesta fase que o cachorro deve iniciar o contacto com outros cães e fundamentalmente, com adultos e crianças. É a altura de colocar o cachorro perante situações novas parecidas com as que encontrará na fase adulta.
Se até à 14ª semana não se proceder a esta integração do cachorro na sociedade onde irá viver, este deixará de responder e o seu futuro comportamento tenderá para a anormalidade.

Esta fase de socialização é particularmente importante para a vida futura do cachorro e daqueles que com ele irão conviver. É aqui que se irão lançar as bases que definirão a estrutura mental e social de um cão. 90% dos problemas comportamentais anómalos e desviantes de cães que têm chegado ao nosso conhecimento, têm origem numa deficiente, mal conduzida e mal executada fase de socialização.


Glossário

[1] Filogenético – Incluído no seu material genético. Herdado

[2] Ontogenéticos – Desenvolvidos durante o período de vida do animal

[3] Espécies precociais – Espécies de rápido desenvolvimento. Necessitam de poucos cuidados parentais. Contrário de Espécies altriciais.

Sem comentários: