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22/04/11

A PROFISSÃO "ADESTRADOR"

Um adestrador intitula-se “profissional” quando, no exercício das suas funções (alteração do comportamento dos cães através de processos ritualizados), aufere rendimentos e/ou honorários por essa actividade.

Tendo em conta que agrada ao adestrador o contacto com o cão e sendo este o objecto essencial do adestramento, deve ter a capacidade de lhe transmitir as suas sensações, suportá-lo no dia-a-dia, cuidar da sua higiene, nalguns casos também o transporte e, inclusivamente, controlar-lhe os comportamentos não desejados.

O ambiente das sessões de treino poderá ser, em muitos casos, adverso por ter de se trabalhar amiúdas vezes sob rigorosos dias de intempérie. O frio, a chuva, o calor e a sede são os “companheiros” sempre presentes nas sessões de trabalho. Pode dar-se o caso de, por vezes, se estar a adestrar um cão em protecção às três da manhã num armazém ou numa fábrica e às sete a efectuar um treino de rastreio. Nenhum adestrador profissional executa o tradicional “nine to five” da maior parte das profissões, como tal é essencial gostar-se muito do que se faz para poder aguentar o ritmo de trabalho que, nalguns casos, é altamente esgotante, mas também bastante aliciante.

Um factor fundamental a analisar é o de que o adestrador deve ser conotado como “o amigo do cão”. De um trato adequado, com respeito e lisura pelos proprietários, clientes e colegas depende em grande parte o futuro de um adestrador, sendo esta outra área importante da sua própria imagem pessoal. A seriedade, educação, honestidade e pontualidade, não sendo qualidades inatas é importante serem adquiridas e elaboradas pelo profissional, se quer que a sua actividade tenha êxito. Para o competidor desportivo a qualidade fundamental será a capacidade de trabalho em equipa.

As exigências físicas

A condição física pessoal derivada das condições externas e inerentes ao trabalho com o cão serão as ideais quando não interfiram com o desenvolvimento das variadas tarefas que se apresentam ou, pelo menos, permitam enfrentar, apesar das limitações físicas, os objectivos traçados. A resistência física é geralmente importante se considerarmos por exemplo, o caso se exercer a actividade de figurante no adestramento de protecção vestido com um fato integral e tiver que trabalhar vários cães. Se ao peso do fato juntarmos a luta com os animais debaixo de uma temperatura escaldante, chegamos à conclusão de que necessitamos de possuir uma condição física adequada quando trabalhamos em várias disciplinas. Apesar disso a coordenação mental, capacidade motora e o sentido espacial reduzirão a possibilidade de estragar um trabalho devido a falhas físicas.

Outro factor a ter em conta é o risco de sofrer arranhões, mordidas ou acidentes. O adestrador, especialmente quando executa o trabalho de figurante, tem o dever de assumir todas as contingências, exactamente como todos os demais profissionais assumem as inerentes ao seu ofício. Isto não quer dizer que sejam evitadas as protecções e se tomem as devidas precauções que recomenda o senso comum. É inevitável a primeira sensação de nos “sentirmos presas” quando enfrentamos pela primeira vez a boca e respectivos dentes de um cão. A preparação física e o conhecimento do animal ajudam-nos a reagir com a resposta adequada a cada situação.

As exigências mentais

Os adestradores com alguma experiência conhecem o importante que é a paciência nesta actividade. Ela pode levar a uma evolução totalmente desejável do trabalho com o animal, enquanto que a pressa irracional só acabará em maus desempenhos, perca de relação com o cão ou à não consecução de objectivos traçados.

A paciência e a tenacidade são as duas virtudes mais valorizadas nesta actividade. Não será um bom adestrador quem não for paciente nem quem desista ao primeiro revés. Também não o será se não for inteligente, bom observador, acutilante e que não saiba raciocinar fria e logicamente. Não deverá igualmente desistir à primeira mordida de algum aluno mais impulsivo. A capacidade de observação permitirá ao adestrador apreciar adequadamente os factores que rodeiam a evolução do trabalho quotidiano.

Uma boa dose de resistência psíquica porá a salvo as frustrações quotidianas com que se depara o adestramento. Deve-se enfrentar os problemas da maneira mais racional possível dando, a cada um deles, a resposta mais adequada.

Por último deve-se insistir uma vez mais, em manter a liderança absoluta na estrutura hierárquica do binómio adestrador-cão.

Ética Profissional

A partir do momento em que uma pessoa é qualificada como Adestrador e começa a cobrar os seus serviços, está a actuar como um Profissional. Como em todas as profissões, nesta também deve existir um código deontológico e uma ética profissional. Por não estar regulamentada, esta profissão presta-se a todo o tipo de oportunistas, moralmente mal formados e charlatães.
Em todas as profissões encontramos pessoas mais ou menos qualificadas e que se intitulam de “profissionais”. A diferença entre o bom profissional e o charlatão radica na qualidade dos seus trabalhos, finalizados com êxito, dentro do respeito à ética da sua profissão.
Por ser uma profissão relativamente nova, faz com que a fiscalização do trabalho, por parte do cliente, seja quase nula. A transparência no processo de adestramento, de modo a evitar abusos e enganos, está sujeita à moralidade do profissional.
Se o adestrador possui um conceito claro do que é a moral, só aceitará um trabalho que seja capaz de realizar e que esteja dentro do que aprendeu na sua formação, rejeitará as tarefas para as quais não se sinta capacitado e não terá problemas em mostrar as limitações reais do animal e as do trabalho que vai desenvolver assim como as possibilidades de êxito.
Outro pecado capital é a crítica maldosa a outro colega de profissão. Quando se procede desta forma ninguém fica a ganhar, perdem, isso sim, todos os adestradores que consideram esta tarefa suficientemente digna para investir nela toda a sua vida.
Finalmente, o que o cliente espera de um profissional é que o seu cão se converta num amigo obediente, amável e educado, num guardião e defensor da sua família, companheiro de vigilância e patrulha, participante em salvamentos, olhos dos invisuais, consolo e ajuda na invalidez e velhice, etc.