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05/09/14

Será que os cães sentem culpa?

Quantas vezes ouvimos os donos de cães dizer coisas como: “o meu cão sabe quando faz algo de mal, vem ter comigo com cara de culpa”, será que realmente isso é verdade? Os nossos cães na realidade têm sentimentos de culpa?

Foi para esclarecer este mito que a Psicóloga e investigadora da Barnard College de Nova Iorque Alexandra Horowitz dedicou alguma da sua investigação.

Ao criar condições em que o proprietário estava mal informado sobre do seu cão havia cometido alguma infração, ela consegui descobrir as origens da “cara de culpa” dos cães.

Horowitz mostrou que a tendência humana em atribuir culpa ao olhar de um cão não se deve ao facto de ele ser realmente culpado. Em vez disso, as pessoas vêm esse sentimento quando simplesmente acreditam que o cão fez algo que não deveria ter feito, mesmo se ele for inocente.

Durante os estudo, os proprietários de 14 cães foram convidados a deixarem uma sala após ordenarem aos animais para não comerem um determinado alimento. Enquanto o dono estava ausente, Horowitz deu a alguns dos cães esse alimento proibido antes de pedir aos proprietários que voltassem para a sala. Em certos casos, eles foram informados que o animal havia comido o alimento, noutros receberam a informação de que o cão se havia comportado de forma adequada. Porém, isso nem sempre correspondia à verdadeira situação.

Ou seja, o “olhar de culpa” dos cães pouco ou nada tem a ver com o facto de serem realmente culpados. Na verdade, os que foram obedientes e não comeram, mas que haviam sido repreendidos pelos seus (desinformados) donos, pareciam mais “culpados” do que aqueles que tinham, de facto, comido o petisco.

A cara de culpa funciona como uma resposta ao comportamento do dono, e não necessariamente um indicativo de qualquer julgamento dos próprios erros caninos.

Este estudo lançou uma nova luz sobre o antropomorfismo – tendência natural do ser humano em comparar o comportamento animal com o comportamento humano e se existe alguma semelhança superficial entre eles. Isso inclui a atribuição de emoções de ordem superior como a culpa, ou o remorso, para o animal, mesmo que este não esteja com esses sentimentos, segundo Horowitz.

O estudo é uma demonstração da necessidade de projectos experimentais cuidadosos se quisermos compreender a relação cão-humano e não apenas afirmar os nossos preconceitos naturais sobre o comportamento animal.


Sílvio Pereira   

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