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13/01/09

Etapas vitais do cão doméstico

Este é um artigo que se reveste de primordial importância para os criadores, mas não deixa de ser interessante para todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão ligados aos cães das mais variadas maneiras; criadores, proprietários, adestradores, veterinários ou simplesmente amantes e estudiosos do fenómeno canino.

Há duas fases da vida do cachorro que considero de extrema importância para o desenvolvimento da estrutura mental do futuro cão: as fases do imprinting e da socialização. É nestes dois períodos da vida do cachorro que é definido o cão que iremos ter no futuro: se são mal executadas teremos um exemplar cheio de problemas de índole social, se forem bem conduzidas é certo que seremos recompensados com cães alegres, extrovertidos e bem integrados na sociedade.

Decidi, para melhor compreensão dos leitores, estruturar cronologicamente o artigo, iniciando a descrição das referidas etapas no nascimento do cachorro:

Período neo-natal (nascimento até à 2ª semana)

- 90% do tempo investido na alimentação e no sono.
- Estimulação materna da zona ano-genital com finalidade de induzir a micção e a defecação dos cachorros.

Período de transição, critico ou “Imprinting” (3ª e 4ª semanas)

- Inicia-se a independência nas condutas de eliminação.
- Inicio dos comportamentos lúdicos e exploratórios.
- Inicio do processo de “Imprinting”.

“Imprinting”


Conceito lançado pela primeira vez pelo naturalista Austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) Prémio Nobel da Medicina em 1973 e considerado o pai da Etologia Moderna. Ele demonstrou que, no trabalho que realizou com gansos, estes seguiriam o primeiro objecto em movimento que encontrassem no seu meio envolvente, mal saíssem dos ovos, ocorrendo assim uma ligação social entre o pequeno ser e o objecto ou organismo que eles vissem em primeiro lugar. Foi o caso da experiência realizada pelo próprio Konrad Lorenz que ao criar uma ninhada de gansos cinzentos desde a oclusão dos ovos, os pequenos gansos o tomaram como sua mãe, seguindo-o incondicionalmente e, mesmo depois de se tornarem adultos, manifestaram sempre maior preferência por ele do que pelos outros gansos.
O comportamento de um animal, de qualquer animal, é o resultado da interacção de dois factores fundamentais: a genética e o meio ambiente, e em muitos casos é quase impossível separar o aspecto filogenético (Incluído no seu material genético. Herdado) do ambiental. Um dos exemplos mais curiosos dessas influências no referido comportamento animal é o chamado “imprinting” (estampagem ou impregnação em português, apesar do termo, em si ser intraduzível).

O imprinting é a primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie, enquanto estabelece relações com os de outra.

Em todas as espécies existe um período, denominado período crítico, durante o qual o factor ambiental é mais susceptível de influenciar o comportamento e é nesse espaço de tempo da vida do animal que a acção do imprinting resulta particularmente intensa e duradoura, tendo grande importância no desenvolvimento dos padrões ontogenéticos (desenvolvidos durante o período de vida do animal) ou vitais.
O período crítico não é o mesmo em todas as espécies. Nas aves, por exemplo, por pertencerem a espécies precociais (espécies de rápido desenvolvimento. Necessitam de poucos cuidados parentais. Contrário de espécies altriciais), o referido período emerge logo nas primeiras horas depois do nascimento. Nos canídeos esse espaço de tempo inicia-se à terceira semana de vida, quando os cachorros começam a abrir os olhos, e a ouvir.
É importante que, nesta fase, a mãe esteja presente na altura do desenvolvimento sensorial dos cachorros, pois será ela o primeiro elemento que eles verão e será nela que se fixarão como pertencentes a uma determinada espécie.
Para a mãe também é extremamente importante esta fase, pois o desenvolvimento do comportamento maternal da fêmea está caracterizado pela aparição de um período sensível em que ela aprende a reconhecer as suas próprias crias assegurando, desta forma, que o instinto maternal se mantenha durante a época de amamentação.

Período sensível ou de socialização. (da 5ª à 12ª semana)


- É o mais importante da vida do cão.
- Acaba o “imprinting”.
- Começa a exploração ano-genital e a relação social com os parentes.
- Esta fase acaba quando observamos uma reacção elevada de medo perante um estímulo novo.
- É o momento de começar a trabalhar as condutas instintivas.
- Inicia-se a socialização

Socialização

Nos canídeos o período de socialização está compreendido entre as 5 e as 12 semanas. Podemos definir esse período como o espaço de tempo compreendido entre o início da maturidade sensorial e a consolidação das estruturas nervosas que controlam a resposta de medo perante situações novas. É ainda durante este espaço de tempo que se dá o desenvolvimento sensorial e locomotor do animal e, graças a ele, o cachorro aprende a deslocar-se, explorar o seu meio envolvente e a interagir com os demais. Às 12 semanas acaba este período com a primeira demonstração de medo como resposta a alguns estímulos novos.
Em determinadas espécies, como os canídeos parece que se produz uma aceitação implícita do humano como companheiro social em pé de igualdade com os membros da sua própria espécie. Uma exposição breve durante o período sensível ou de socialização é suficiente para que se estabeleça uma relação normal com os seres humanos. É nesta fase que o cachorro deve iniciar o contacto com outros cães e fundamentalmente, com adultos e crianças. É a altura de colocar o cachorro perante situações novas parecidas com as que encontrará na fase adulta.
Se até à 14ª semana não se proceder a esta integração do cachorro na sociedade onde irá viver, este deixará de responder e o seu futuro comportamento tenderá para a anormalidade.

Esta fase de socialização é particularmente importante para a vida futura do cachorro e daqueles que com ele irão conviver. É aqui que se irão lançar as bases que definirão a estrutura mental e social de um cão. 90% dos problemas comportamentais anómalos e desviantes de cães que têm chegado ao nosso conhecimento, têm origem numa deficiente, mal conduzida e mal executada fase de socialização.

Período Juvenil. (da 13ª semana à maturidade sexual)

- Desenvolvimento da capacidade motora.
- Respostas de medo mais intensas.
- Aumenta a dificuldade de socialização.

Fase da maturidade.

- Fixação dos padrões de conduta.
- Aumento da capacidade de aprendizagem.
- Aparecem os problemas comportamentais.

Com este artigo espero ter contribuído para uma melhor compreensão, principalmente por parte dos criadores, das etapas por que um cão passa desde o seu nascimento à fase adulta. Apelo aos criadores, a fim de evitar problemas adjacentes, que se debrucem mais na socialização dos cachorros, preocupem-se fundamentalmente em proporcionar aos cachorros a possibilidade de serem confrontados com todo o tipo de situações, de ruídos, de dificuldades para ultrapassar, apresentem-nos a animais da mesma e de outras espécies, etc., para que os problemas que existem actualmente com a maioria dos cães não se venham a verificar no futuro, não só para bem deles mas principalmente para o bem da sociedade. Numa palavra: Dêem aos cães a possibilidade de serem cães.

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