Aparelho reprodutor e urinário da cadela |
Nos cães, a eliminação das hormonas sexuais masculinas (testosterona, principalmente) reduz ou elimina a aparição de alguns comportamentos sexualmente dimórficos (aqueles que se apresentam com diferente frequência no macho e na fêmea) como a marcação com urina, assim como os rituais próprios do comportamento sexual.
Apesar disso, com demasiada frequência, utiliza-se a castração como um tratamento inespecífico para problemas de comportamento nos machos para os quais não existe uma indicação precisa. Isto, juntando a uma cirurgia que proporciona respostas muito variáveis nos animais, desperta numerosas dúvidas no que respeita à sua efectividade tanto entre os profissionais como entre os tutores.
Ainda que grande parte dos estudos realizados para comprovar a eficácia da castração no tratamento dos problemas de comportamento foram efectuados há algum tempo e, provavelmente necessitem de ser revistos, em linhas gerais as indicações para a castração são as seguintes:
· Problemas
relacionados com a conduta sexual: os comportamentos de monta inapropriada ou o
vagabundeio (afastamento para procura de fêmea em cio);
· Problemas
de marcação com urina: a redução ou eliminação deste comportamento observa-se
principalmente na residência. Durante o passeio, muitos destes animais
continuam a fazê-lo normalmente. Isto parece estar relacionado com a diferente
intensidade dos estímulos olfactivos presentes em ambos os locais;
· Problemas de agressividade: a principal indicação neste tipo de problemas é a agressividade intra-sexual. Apesar disso, e ainda que os resultados são muito variáveis, em geral recomenda-se a castração nos casos de agressividade dirigida para com os membros da família. Raramente a castração, por si só, corrigirá o problema, mas pode ser uma ajuda no tratamento da modificação comportamental.
Para outros problemas de comportamento, como outros tipos de agressividade, casos de hiperactividade, medos ou fobias, etc., não está indicada a castração.
No quadro seguinte
apresentam-se as percentagens de melhoria ou eliminação das condutas
problemáticas atrás mencionadas.
Comportamento |
Percentagem |
Vagabundeio |
90 |
Monta |
65 |
Agressividade intra-sexual |
60 |
Marcação com urina |
50 |
Agressividade para com a
família |
30 |
Agressividade territorial |
0 |
Agressividade por medo |
0 |
Fonte: Hart et al., 1997
Em qualquer caso, os efeitos da castração parecem ser independentes da idade e se já houve comportamentos agressivos enraizados anteriormente à data em que se realiza a castração e os seus efeitos podem ser imediatos. Nalguns casos observa-se uma fase inicial de melhoria rápida, e noutros mais lenta e progressiva que se dilata até, em muitos casos, aos seis meses.
Efeitos sobre o comportamento da cadela
Os efeitos das hormonas sexuais femininas (estrogénios) sobre os problemas de comportamento nas cadelas estão muito menos estudados que nos cães.
É interessante, principalmente o efeito que tem sobre dois problemas de agressividade específicos: a agressividade para com os membros da família e a agressividade intra-sexual.
Na agressividade por conflito social (complexo de controlo) para com os elementos da família, observou-se que as fêmeas que apresentam sinais prematuros (antes da puberdade) de agressividade, a esterilização pode agravar o problema se a intervenção cirúrgica se realiza antes dos 12 meses de idade. Portanto, nestes casos e por estes motivos, a esterilização deve ser evitada.
No que respeita à agressividade intra-sexual, se normalmente o problema se agrava significativamente quando a fêmea está em cio ou com gravidez psicológica e melhora durante o resto do ciclo sexual, pode recomendar-se a esterilização como ajuda ao tratamento.
Castração química
Muitos tutores de cães machos problemáticos não estão muito receptivos à castração do animal, sejam pelos resultados incertos que proporcionam a cirurgia, sejam pela ideia que têm que a castração afecta consideravelmente a “integridade” do cão.
Para estes casos, à falta de estudos mais conclusivos, existe actualmente uma opção que permite prever com exactidão a eficácia da castração sobre alguns problemas de comportamento característicos dos machos.
Esta opção consiste
numa “castração química” que se apresenta sob a forma de um implante subcutâneo
de uma substância análoga da hormona
libertadora de gonadotropina (GnRH), de libertação controlada, que bloqueia a libertação
de testosterona durante um período de cerca de seis meses. Este fármaco,
chamado deslorelina, apresenta, segundo os estudos farmacológicos preliminares
realizados, uma eficácia muito similar à castração cirúrgica para controlar os
comportamentos sexualmente dimórficos nos cães, como são os casos da monta,
marcação com urina, vagabundeio, e agressividade intrasexual.
Sílvio Pereira